Ao serem analisadas pela primeira vez, imagens captadas pelo rover Perseverance, da Nasa, revelaram que a cratera Jezero de Marte era um lago nutrido por um pequeno rio há cerca de 3,7 bilhões de anos. A análise foi publicada nesta quinta-feira (7) na revista científica Science.
O depósito rico em argilas ocupa 45 quilômetros e, atualmente, é apenas uma depressão seca e erodida pelo vento. O que as novas imagens mostram são rochas de dentro do lado oeste da cratera que indicam que, há bilhões de anos, o local sofria inundações repentinas, varrendo rochas enormes por alguns quilômetros acima do lago até que elas parassem em seu leito, onde ainda estão até hoje.
Anteriormente, satélites haviam mostrado que a situação desse afloramento lembrava os deltas de rios da Terra, onde camadas de sedimentos são depositadas conforme o rio deságua em um lago. As imagens da Perseverance confirmam essa comparação, porém, isso teria ocorrido somente até que uma mudança climática bem drástica desencadeasse enchentes em Marte.
Os cientistas identificaram nas imagens pedras nas camadas mais recentes e superiores do delta. Algumas delas mediam até um metro de largura e pesavam várias toneladas. A equipe acredita que essas rochas vieram provavelmente da borda da cratera ou a cerca de 64 quilômetros rio acima.
A hipótese é de que as rochas foram carregadas no rio para dentro do leito por uma inundação que fluía com velocidade de nove metros por segundo, alcançando um volume de água de 3 mil metros cúbicos por segundo. “Você precisa de condições energéticas de inundação para carregar rochas tão grandes e pesadas”, observa Benjamin Weiss, colaborador do estudo, em comunicado. “É algo especial que pode indicar uma mudança fundamental na hidrologia local ou talvez no clima regional de Marte”.
Perseverance também captou fotos de uma formação chamada Kodiak, que os pesquisadores supõem ter sido conectada ao afloramento principal. Os cliques ocorreu com a utilização de suas duas câmeras da sonda: Mastcam-Z e SuperCam Remote Micro-Imager (RMI). Ao combinarem e processarem as imagens, eles observaram camadas de sedimentos ao longo dessa formação em resolução muito alta.
As imagens de Kodiak, junto com as do afloramento principal, confirmaram a existência do delta de rio, segundo os cientistas. Contudo, eles concluíram que as inundações na cratera Jezero desencadearam a queda das rochas pesadas nesse delta. Então, o lago secou e a paisagem passou por erosão por bilhões de anos.
A causa dessa mudança climática ainda é desconhecida e os pesquisadores esperam que a análise das rochas do delta possa dar alguma resposta. Além disso, conforme Perseverance continua explorando Jezero, ainda existe a possibilidade de encontrar vestígios de vida aquosa antiga, caso ela tenha existido.
“Agora temos a oportunidade de procurar fósseis”, conta Tanja Bosak, integrante da pesquisa e professora associada de geobiologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts(MIT), nos EUA. “Vai levar algum tempo para chegar às rochas que realmente esperamos amostrar em busca de sinais de vida. Então, é uma maratona, com muito potencial”, conclui. As informações são da Revista Galileu.