O desemprego no Brasil, de 13,2% no trimestre encerrado em agosto, é mais que o dobro da média internacional, de 6,5%, segundo ranking feito pela agência de classificação de risco Austin Rating.
Os números comparam países que divulgaram dados de desemprego de agosto. Pelo ranking, a taxa de desocupação brasileira é a quarta maior de uma lista de 43 economias mais a média da zona do euro.
No desempenho em agosto, o Brasil só ficou em uma posição melhor do que a de Costa Rica (15,2%), Espanha (14,6%) e Grécia (13,8%). Entre os países analisados, o desemprego mais baixo foi registrado em Singapura (2,6%), Suíça (2,7%) e República Tcheca (2,8%). Na média dos países da zona do euro, a desocupação era de 7,5% em agosto.
“Ainda vai demorar para que o mercado de trabalho do Brasil se recupere. A última vez em que tivemos uma taxa de desemprego de um dígito foi em 2015, sempre tivemos um fator internacional ou doméstico adiando a recuperação”, diz Alexandre Agostini, economista-chefe da Austin.
Ele acrescenta que o ambiente político tem se sobreposto ao econômico, o que nos leva a uma situação de desemprego estrutural. “Temos um nível de subemprego elevado e a estrutura tributária para manter um trabalhador acaba fazendo com que o emprego seja a última variável a se recuperar depois de uma crise.”
Em geral, ele diz que os países com as maiores taxas de desemprego são fatores domésticos. “Os países em que os problemas persistem após crises internacionais e momentos de recuperação têm fatores domésticos trabalhando contra.”
No caso da Costa Rica, líder do ranking, pesam as turbulências políticas, lembra Agostini. “A Grécia ficou em recessão por uma década e a Espanha vem crescendo pouco. O Brasil vai na mesma linha, é afetado por problemas externos, como a pandemia, mas tem também fatores domésticos afetando a recuperação do emprego.”
Ele destaca que as projeções divulgadas em outubro pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) apontam que o Brasil deve fechar 2021 com o desemprego em 13,8%, o que colocaria o mercado de trabalho no Brasil entre os 15 piores do mundo.
Os dados de desemprego do Brasil usados no levantamento vêm da mais recente Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE. Por ela, a taxa de desocupação ficou em 13,2% no trimestre encerrado em agosto, o que representa 13,7 milhões de trabalhadores.
Parte desse retrato pode ser vista na fila que se formou desde a madrugada desta segunda-feira (22) na porta da UNG (Universidade Guarulhos), na Grande São Paulo, no campus Bonsucesso, para uma feira em que eram oferecidos mil empregos, entre vagas fixas, temporárias e de estágio, sobretudo nas áreas industrial, comercial e de serviços.
“Entreguei meus documentos, para uma vaga de auxiliar de produção em uma empresa de Guarulhos. Cheguei por volta das 14h, poderia ter um pouco mais de organização, mas o saldo é positivo e a expectativa é grande”, conta Lucas da Silva, morador da região. Ele, que finalmente conseguiu marcar uma entrevista para uma vaga de emprego, tem a expectativa de ser contratado ainda este mês.
O evento contou com apoio do Sebrae, da Asec (Associação dos Empresários de Cumbica), da ADRH (Associação dos Dirigentes de Recursos Humanos de Guarulhos), Guarulhos Empreendedor, e do CME (Conselho da Mulher Empreendedora), além de empresas de recursos humanos e de escolas de idiomas.
Primeira na fila, tendo chegado à feira por volta das 4h, a auxiliar de limpeza industrial Penha Lousada da Silva, 54, conseguiu marcar uma entrevista para a próxima sexta-feira.
Os especialistas em mercado de trabalho têm mostrado preocupação com o longo período em que o Brasil tem registrado desemprego elevado. Projeções recentes apontam que, no ritmo atual, o país só voltaria à taxa de desemprego de antes da pandemia em 2023 e poderia levar até dez anos para voltar a um nível considerado de pleno emprego.
Procurando emprego há seis meses, o consultor financeiro Guilherme Veiga, 18, espera sair dessa situação em breve. Ele saiu da feira com o convite para participar de um treinamento e de um processo seletivo, em uma empresa de consórcios na Grande São Paulo.
“Estou terminando o ensino médio e um curso técnico em administração. Não é meu primeiro emprego e sei que muita gente está tentando, mas estou confiante”, diz.
Em nota, o diretor da unidade, Heber de Godoi Carvalho, lembrou que o número de pessoas desempregadas no município aumentou com a pandemia. Diante da retomada da economia, diz, a universidade decidiu formar uma parceria com entidades civis para oferecer vagas. Redação da Folha de São Paulo.