Após a suspensão das prévias do PSDB neste domingo (21), os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) trocaram ataques antes de uma reunião na sede do partido em Brasília, à noite, para tentar chegar a um consenso sobre a nova data da votação. Doria e Arthur Virgílio (AM), o ex-prefeito de Manaus que também concorre, defendem a realização das prévias no próximo domingo (28), das 6h às 18h, pelo aplicativo para filiados e vereadores e pela urna eletrônica, em Brasília, para demais políticos com mandato, incluindo o alto clero.
Esse era o sistema previsto para este domingo, que não funcionou porque o aplicativo travou desde a manhã devido ao alto fluxo de acessos. A votação estava prevista para de 7h às 15h, foi ampliada até as 18h e terminou suspensa. De acordo com Doria, apenas 8% dos filiados inscritos no app conseguiram votar. Senadores e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além do próprio Virgílio, não conseguiram votar. Leite, por sua vez, quer concluir a votação até a próxima terça-feira (23) por considerar que adiar o processo para domingo significaria reabrir a campanha por busca de apoio entre os filiados.
Doria e Virgílio o acusaram de querer melar as prévias e criticaram o deputado Aécio Neves (MG), que apoia o governador do Rio Grande do Sul. Em encontro na noite deste domingo, o presidente do partido, Bruno Araújo, definiu que haverá uma reunião com a empresa desenvolvedora do aplicativo nesta segunda (22). A partir daí será possível verificar a viabilidade técnica de retomar a votação pelo aplicativo. Araújo disse ainda que, se a resolução da ferramenta demorar um longo prazo, as campanhas terão que dialogar sobre como fechar a votação.
No entanto, o presidente afirmou ter a expectativa de que o conserto ocorra logo. O que determinará a data de retomada das prévias, segundo ele , é a viabilidade técnica do aplicativo, e não a vontade de cada candidato. O dirigente informou que de 62% a 65% dos votos, considerando os pesos desiguais, foram dados neste domingo, pela urna e aplicativo. Os resultados não serão apurados até que haja a votação complementar. Pelo app, houve menos de 4 mil dos 40 mil votos previstos.
Ainda assim, Araújo defendeu as prévias como um processo a ser adotado daqui em diante, afirmando que o PSDB se tornou protagonista no xadrez eleitoral de 2022. Disse ainda que o aplicativo não teve registros de ataques à segurança. Para ele, o aplicativo é a ferramenta que chega no maior número possível de tucanos. “A ousadia traz preço e risco”, resumiu. Doria chegou a dizer que os três candidatos tiveram um entendimento de não contestar o resultado das prévias, algo que Araújo não confirmou. Há temor de que o imbróglio seja alvo de ação na Justiça, atrasando ainda mais a definição da candidatura tucana.
“Acredito que a política partidária se discute no campo interno, mas não tenho poder de vetar qualquer tipo de ação judicial. Mas não acredito que aconteça e, se acontecer, não terá impacto político do resultado da eleição”, disse o presidente. Questionado sobre as pressões, em parte dos tucanos, para que renuncie após o vexame das prévias, Araújo respondeu que “seria uma maravilha alguém resolver vir assumir um trabalho voluntário”.
“Poucos tiveram a iniciativa de convocar um evento dessa magnitude. Todas as decisões do PSDB são de responsabilidade minha. Agora, claro, que eu não sou imperador. A decisão é minha, mas ela teve a devida adesão das candidaturas”, completou. Desde o início do processo, os paulistas desconfiam de que Aécio age para sabotar as prévias e para que o PSDB não tenha um candidato à Presidência, o que faria o fundo eleitoral sobrar para os deputados federais.
Também pesa sobre Aécio seu posicionamento, seguido por outros tucanos da bancada, a favor do governo Jair Bolsonaro na Câmara, sendo que o PSDB já se declarou um partido de oposição. “Não há razão para adiar as prévias do PSDB exceto por aqueles que querem melar as prévias do PSDB. Quem quer fazer democracia não tem medo do voto e pode votar no próximo domingo”, disse Doria.
“O aplicativo pode e deve ser melhorado ao longo da semana”, completou o governador paulista, afirmando ter confiança. No entanto, a Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs), desenvolvedora da ferramenta, não deu um prazo para resolver os problemas vistos neste domingo.
Doria acusou Leite de mudar de posição. Aliados do paulista dizem que a campanha gaúcha propôs o adiamento das prévias para 2022, algo que Leite nega. “É preciso ter uma única palavra e uma única atitude. Não é razoável ter uma atitude, 10 minutos depois outra, 15 minutos depois outra”, disse Doria.
Virgílio, que não tem chances de vencer a disputa, passou a jogar ao lado de Doria nessa questão. O ex-prefeito disse ter divergências com Leite. “Fala em perto do Carnaval fazer as prévias, o que significa dizer não fazer as prévias”, afirma. Virgílio disse que, além da proposta de adiar para 2022, Leite queria a votação durante toda a semana, o que deixaria o aplicativo exposto à ação de hackers. Doria afirmou ainda que defendeu que toda a votação das prévias ocorresse com urnas eletrônicas pelo país.
“Por razões que desconhecemos, o partido adotou uma forma híbrida. Escolheu uma empresa para desenvolver o aplicativo que, circunstancialmente, é de Pelotas, no Rio Grande do Sul [cidade de Leite]”, afirmou o governador paulista. A Faurgs, porém, tem endereço em Porto Alegre. Aliado de Doria, o prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando, disse na mesma entrevista à imprensa que a Faurgs foi escolhida, entre outras universidades, por ter sido a única que se dispôs a fazer o app até novembro.
O prefeito ressaltou que a campanha de Doria já chamava atenção para as vulnerabilidades do aplicativo há semanas. Por fim, Doria e Virgílio condenaram o bolsonarismo no PSDB, que atribuem a Aécio. “O PSDB vai passar por um processo de depuração. A maioria quer votar, quer o exercício democrático do voto, quer um candidato à Presidência, quer a consolidação da terceira via, querem o diálogo com outros partidos que sigam na mesma direção e quer transparência no processo. Aqueles que desejarem diferentemente disso terão opção de escolher outro partido”, disse Doria.
O governador paulista lembrou que a oposição a Bolsonaro não é plenamente praticada, o que impede o partido de ter respeitabilidade. “Uma maçã está estragando as outras. Dou nome e sobrenome: Aécio Neves”, declarou Virgílio. Além de negar a acusação de querer adiar a votação para 2022, Leite disse que o prazo proposto pelos adversários não era razoável e representaria a reabertura de campanha.
“Para que este processo seja resguardado, nós entendemos que o limite é até a próxima terça-feira”, disse. “Para que este processo possa ser considerado íntegro dentro da questão da integridade, da integralidade, ou seja, o processo por inteiro, ele não pode ter uma descontinuidade de uma semana inteira em que novas abordagens, nova campanha, novas mobilizações vão acontecer.”
O governador do Rio Grande do Sul ironizou a aliança dos dois rivais. “Se tem uma coisa positiva de ter os dois candidatos um ao lado do outro aqui é o que confirma o que se viu durante a campanha toda, as dobradinhas que fizeram nos debates, nas colocações que fizeram nas entrevistas um para o outro”, afirmou.
“A união deles, dos dois, mostra que eles precisam ser dois para enfrentar o tamanho que a nossa candidatura adquiriu”, acrescentou Leite. O gaúcho defendeu ainda que o PSDB é um partido “com muito projeto, com muita agenda para ficar tentando ganhar eleição com lacração de ficar batendo em candidato adversário”. Redação do Folhapress.