Três estudantes baianos cravaram mil na nota da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), porta de entrada para universidades públicas e privadas e que teve o resultado da última edição divulgado anteontem, pelo Ministério da Educação (MEC). Dos baianos notas mil, dois são de Salvador e uma é de Feira de Santana, a estudante Alice Souza, 18, que prestou o exame pela segunda vez e pretende cursar medicina. Os candidatos ao Enem citaram o escritor português José Saramago, o antropólogo Gilberto Freyre e a Constituição Federal nos seus textos.
Estudiosa, Alice Souza veio de Feira para Salvador para cursar o último ano do Ensino Médio no colégio Villa Global Education. Ela sonha em ingressar no curso de medicina a Universidade Federal da Bahia (Ufba), ou da Unicamp, em São Paulo. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também é uma opção. A garota nota mil revela que fazia cinco redações por semana e treinou os mais variados temas, também com provas antigas do Enem. “Sempre tentava entender meus erros e pensar como a corretora corrigiria minha prova. Acho que isso que foi o diferencial”, afirma.
O tema da redação foi ‘Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil’. Alice já tinha feito um texto sobre o tema no colégio e usou como repertório a Constituição Federal e Gilberto Freyre, citando o livro ‘Casa Grande e Senzala’. “Preferi focar nas consequências da falta do documento, como a precarização do trabalho, pois não permite que a pessoa tenha CLT. Nesse parágrafo, falei do trabalho análogo à escravidão e como o Brasil herdou muitos aspectos da colônia”, detalha.
Ela ainda mencionou outro efeito, a não geração do título de eleitor. “Citei um filósofo que fala que, na democracia, todas as vozes devem ser ouvidas e, sem o documento, não é possível ouvi-las”. Mesmo com a alta nota na redação e com 760 de média, ela acredita que não conseguirá passar nas faculdades desejadas. “Não fui mal nas outras matérias, se fosse para passar em qualquer outro curso, conseguiria, mas não Medicina”, acredita. Ela agora faz cursinho no Bernoulli.
O soteropolitano Geismar Samis, 24, o segundo baiano nota mil, faz Enem desde 2012 como ‘treineiro’ e não pretende usar a nota para ingressar em faculdade alguma. Isso porque ele já é formado no Bacharelado Interdisciplinar (BI) de Ciência e Tecnologia da Ufba e está no quinto semestre de engenharia da universidade. “Faço Enem todo ano, ‘na bruxa’, para testar, sem nenhuma preparação. É um jeito de atualizar o conhecimento e manter a prática”, diz.
Ele nunca tinha tirado a nota mil. Quando fez o exame para entrar na Ufba, conseguiu 860. “Foi uma sensação ótima, porque não esperava, por ser mais ligado à engenharia. Aproveitei esse momento da pandemia para trazer questões atuais do tema, que vejo nos jornais”, conta. O tema dele, por ter feito a prova de reaplicação, foi diferente do de Alice: ‘Reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências da saúde no Brasil’.
O terceiro nota mil, Pedro Macedo, não quis dar entrevista. Como o Ministério da Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que organiza o Enem, não responderam à matéria antes do fechamento, outros baianos também podem ter gabaritado a prova.
Foi por pouco
A estudante Ana Clara Rodrigues, 22, bateu na trave: tirou 980. Ela faz Enem desde 2015 e também quer cursar medicina. Ela já fez dois anos de cursinho, mas agora estuda por conta própria e pega matérias isoladas, como redação, no GPS Português. “No início, achei o tema difícil, mas sempre uso o modelo ensinado pela GPS, então já chego pronta, só encaixando os temas com o repertório que as professoras ensinam”, diz Ana Clara. Ela não conseguiu fazer o segundo dia de provas por ter tido sintomas gripais. Agora, foca no vestibular da Bahiana.
Outra que chegou perto da nota máxima foi Thaís Novais, 18, aluna do Instituto Federal da Bahia (Ifba), de Eunápolis, no Extremo Sul do estado, também candidata ao curso de medicina. “Desde criança, é meu sonho”. Foi a primeira vez que ela fez Enem, para testar. Na redação, usou os filósofos Durkheim e Aristóteles. Mesmo que passasse esse ano, esperaria 2023 para completar o curso técnico, em Meio Ambiente.
Thaís também considera cursar alguma faculdade particular de sua cidade, por já ter a estrutura. “Quero tentar o Prouni em alguma faculdade privada, porque não tenho condições de ir para cidades vizinhas, como Ilhéus e Teixeira de Freitas, que seriam as mais próximas”, afirma. Ela fazia uma redação por semana e sua média geral ficou em 633. Para o Prouni, o mínimo é cerca de 710.
Como usar a nota do Enem para entrar na faculdade
A forma de entrar em uma faculdade pública usando a nota do Enem é através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação. Nele, as instituições públicas de ensino superior oferecem as vagas e os candidatos com melhor classificação são selecionados, de acordo com suas notas da prova. O período de inscrições é de 15 a 18 de fevereiro. O resultado da chamada regular sai no dia 22 e a matrícula começa no dia seguinte, com duração até 8 de março. A partir do dia 10, são chamados os participantes em lista de espera.
Algumas faculdades particulares também dão a oportunidade do aluno ingressar com a nota do Enem sem precisar fazer outra prova. É o caso da UniFacs, Ages, UniFG e Unijorge, que têm notas de corte de 300 (exceto medicina) e oferecem bolsas de até 100%, a depender da disponibilidade. Dentre os cursos mais concorridos, nas quatro faculdades, estão: Direito, Odontologia, Ciência da Computação e Enfermagem.
A nota do Enem também precisa ser superior a 200 pontos na prova de conhecimentos e na redação para substituir o processo seletivo da Unime, Unopar e Pitágoras. Caso a nota do candidato tenha sido inferior, ele precisa prestar o vestibular da marca, informou a assessoria de comunicação das instituições. Ainda de acordo com a assessoria, os candidatos podem ter descontos a partir de 55% a depender da pontuação obtida no exame.
A Rede UniFTC, por sua vez, oferece bolsas de estudos de 50% a 100% durante todo o curso de graduação, além da primeira e segunda mensalidade por R$ 49,90, para quem utilizar a nota do Enem ou optar pelo vestibular on-line da entidade. Já o Ifbaiano seleciona a partir do Sisu, com notas de corte diferentes para cada curso. Mas, além do sistema, existe, os Editais de Vagas Remanescentes em cursos de graduação que possibilitam o ingresso de estudantes por meio de notas do Enem, disse a entidade, em nota. Com informações do Correio.