O presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou “a esquerda” pela defesa de regras mais flexíveis sobre o aborto e foi às redes sociais na noite desta terça-feira, 22, lamentar a decisão da Colômbia de descriminalizar o ato até 24 semanas de gestação, em um aceno claro à sua base de apoiadores evangélicos. No passado, contudo, o chefe de Executivo já disse considerar que a interrupção de uma gravidez deveria ser decisão do casal e admitiu, inclusive, ter sugerido à sua ex-esposa, Ana Cristina Valle, que não prosseguisse com a gestação de Jair Renan, seu filho “Zero Quatro”.
Em entrevista concedida em 2000 à revista IstoÉ Gente, que voltou a circular em grupos de mensagens e nas mídias sociais após as declarações de ontem, o presidente foi questionado sobre a legalização do aborto e respondeu: “Tem de ser uma decisão do casal”. Depois, completou: “Já (vivi tal situação). Passei para a companheira. E a decisão dela foi manter”.
Nesta segunda-feira, 21, o mais alto tribunal da Colômbia decidiu descriminalizar o aborto nas primeiras 24 semanas de gestação, o que reacendeu o debate sobre o tema também no Brasil. Em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro tem apostado na pauta de costumes e tentado fidelizar o apoio dos evangélicos, uma de suas principais bases eleitorais.
A polêmica nas redes começou quando a ex-deputada federal Manuela Dávila publicou e em seguida excluiu uma postagem celebrando a descriminalização na Colômbia, o que gerou grande repercussão entre bolsonaristas. Apoiadores do presidente viralizaram uma captura do tweet apagado de Manuela, bem como imagens suas na igreja ao lado de Fernando Haddad (PT) na campanha presidencial de 2018. Parlamentares de esquerda, como Sâmia Bomfim, Talíria Petrone e Isa Penna, todas do PSOL, também comemoraram nas redes sociais.
“No Brasil, a esquerda festeja e aplaude a liberação do aborto até o 6° mês de gestação, lamentavelmente aprovado na Colômbia. Trata-se da vida de um bebê que já tem tato, olfato, paladar e que já ouve a voz de sua mamãe. Qual o limite dessa desumanização de um ser inocente?”, escreveu o presidente, no Twitter. “No que depender de mim, lutarei até o fim para proteger a vida de nossas crianças!”, acrescentou.
Na mesma entrevista à IstoÉ, em 2000, Bolsonaro disse ser católico, mas que era “coisa rara” ir à igreja. O então deputado também afirmou que se inspirou na Bíblia para ser favorável à pena de morte. “Eu já li a Bíblia inteirinha, com atenção. Você tem bons exemplos ali. Está escrito: ‘A árvore que não der frutos, deve ser cortada e lançada ao fogo’. Eu sou favorável à pena de morte”, afirmou. Em seguida, comentando o massacre do Carandiru, disse: “Continuo achando que perdeu-se a oportunidade de matar mil lá dentro”.
Bolsonaro também declarou à época ser contra a união entre pessoas do mesmo sexo: “Não posso admitir abrir a porta do meu apartamento e topar com um casal gay se despedindo com beijo na boca”; e a favor da tortura: “Um traficante que age nas ruas contra nossos filhos tem que ser colocado no pau-de-arara imediatamente”.
Em razão dessa mesma entrevista, Bolsonaro foi questionado sobre seu posicionamento sobre o aborto na campanha presidencial de 2018. À época, ele reforçou que é contra o procedimento e que não tinha “ascendência” sobre a ex-mulher Ana Cristina Valle para tomar qualquer decisão sobre o tema. À Folha de S. Paulo, declarou que quando Renan nasceu, ele fez um exame de DNA e “assumiu” a criança. Com informações do Estadão Conteúdo.