O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) não é contrário ao uso de seus acessórios por pessoas que não integram o grupo. O tema ganhou destaque nas redes sociais nas últimas horas após uma publicação de um usuário do Twitter condenar o uso do boné “como acessório de balada”.
O Brasil de Fato conversou com Kelli Mafort, da direção nacional do MST, para verificar qual o posicionamento dos sem terra sobre o assunto. Ela afirmou que o uso dos bonés do movimento nas cidades é motivo de “orgulho”, mas alertou aos apoiadores que o acessório deve ser acompanhado de “compromisso com a luta popular” e ser comprado nas lojas Armazém do Campo.
“Nós nos orgulhamos quando vemos pessoas que não são do MST utilizando os nossos símbolos, nossos bonés, camisetas e bandeiras. Sabemos que utilizar esses símbolos é assumir um compromisso na sociedade. É dizer ‘ocupa tudo’! É dizer, pedagogicamente, que as conquistas elas só são arrancadas através da luta e da organização”, declarou.
Mafort comentou a “preocupação” de pessoas que apontam uma suposta apropriação cultural no uso do boné: “Sabemos também que muitas pessoas zelosas levantam a sua voz para poder dizer que não é legítimo que pessoas que não sejam do MST usem o boné do MST. Nós agradecemos essa preocupação, mas dizemos, é preciso ampliar a nossa visão. É preciso saber que a luta pela reforma agrária é o engajamento de toda a sociedade”.
No campo e na cidade
A dirigente relembrou ainda um congresso nacional do MST, realizado em 1995, que reforçou a visão dos sem terra sobre a importância de disputar politicamente a pauta da reforma agrária também nas cidades, não apenas no campo.
“Em 1995, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizou um importante Congresso. Foi o seu terceiro congresso. Ali, nós avançamos na consciência de que a luta pela terra nós fazemos no campo, através das ocupações de terra, mas nós ganhamos essa luta politicamente nas cidades. Por isso, nós expressamos naquele período, em 1995, no lema “Reforma agrária, uma luta de todos”, o sentido da relação campo-cidade”, disse Mafort.
“E entendemos que trabalhadores urbanos e rurais devem enfrentar as mazelas da questão agrária e da questão urbana juntas. Nós sabemos que 85% da população Brasileira vive na zona urbana e apenas 15% no campo. Então, é fundamental que a questão agrária, a questão da reforma agrária, seja debatida e incorporada pelas pessoas que vivem na cidade”, concluiu. Com informações do Brasil de Fato.