Pressionado por diversas categorias do serviço público que cobram reajustes de salário, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a prometer nesta segunda-feira (2) aumentar o número de convocados em concursos da PF (Polícia Federal) e da PRF (Polícia Rodoviária Federal). Em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, o Bolsonaro telefonou ao ministro da Justiça, Anderson Torres, e pediu um “aditivo” para ampliar as vagas.
O governo realizou concursos com 1,5 mil vagas para cada carreira. Bolsonaro prometeu, em mais de uma ocasião, chamar outros 500 candidatos da PF e o mesmo número para a PRF. Na conversa com Torres ele sugere que deseja dobrar o número de convocados, além do edital. Questionada, a assessoria do Ministério da Justiça ainda não confirmou o pedido.
“Você tem capacidade… passar para mil cada um? Acha que dá para resolver? Então faz um aditivo, pede mil vagas, já que você está no limite teu, para mil vagas para cada lado. Pode ser?”, disse Bolsonaro ao ministro da Justiça. A fala de Bolsonaro foi divulgada por páginas de apoiadores no YouTube. As reiteradas promessas não cumpridas de Bolsonaro têm desagradado às entidades que representam os agentes da PF.
O presidente chegou a planejar conceder reajustes apenas para agentes da PF, PRF e Depen (Departamento Penitenciário Nacional) neste ano, mas recuou e estuda um aumento linear de 5% a servidores federais. O percentual “desagrada a todo mundo”, disse Bolsonaro na última sexta-feira (29). Insatisfeitos com a proposta de reajuste e sem avanço nas negociações, os servidores do Banco Central devem retomar a greve por tempo indeterminado a partir de terça-feira (3).
Na chamada ao ministro, feita em frente aos apoiadores, Bolsonaro também pede para Torres conversar com a Economia sobre o aumento das vagas às polícias. Bolsonaro disse aos apoiadores que as novas vagas foram destravadas com a aprovação de projeto no Congresso que abre crédito para gastos com pessoal. Ele afirmou que poderia publicar nesta segunda-feira (2) a convocação dos agentes. Os agentes convocados ainda devem passar pelo curso de formação policial.
Na semana passada, Bolsonaro voltou a tentar se afastar das críticas de categorias que cobram reajuste acima de 5%. Pediu ainda compreensão e sugestões da população. “Coloquei na mesa o problema. Vamos lá, estou agora aguardando sugestões de vocês”, disse o presidente em entrevista à rádio Metrópole FM, de Cuiabá (MT). O presidente afirmou que estuda igualar o teto das carreiras de policiais rodoviários federais e de agentes da polícia federal.
“Como vai se comportar a Polícia Federal? Vai dizer que é contra? Entrar em greve? Peço a todos que estão me ouvindo: se coloquem no meu lugar, apresentem alternativas”, disse o presidente à rádio. “Quero ajudar a todos os servidores no Brasil, sempre defendi o reajuste. Mas não tem como dar mais do que temos nesse momento [5%], custa R$ 7 bilhões”, declarou ainda, na semana passada. Como antecipou a Folha, Bolsonaro decidiu, em reunião no dia 13 de abril, conceder um reajuste de 5% para todos os servidores públicos federais a partir de 1º de julho, mesmo sem espaço suficiente no Orçamento.
O Orçamento de 2022 só tem reservado o valor de R$ 1,7 bilhão para reajustes ou reestruturações de carreiras de servidores neste ano. A ideia de Bolsonaro era só privilegiar agentes da polícia. “O estudo vazou rapidamente e outras categorias, que são importantes, começaram a ameaçar o governo, ‘vamos parar o Brasil”‘, disse Bolsonaro na última sexta-feira. O custo total do reajuste linear de 5% é estimado em R$ 7,9 bilhões em 2022, o que irá forçar cortes de verbas em outras áreas.
“Não sou o dono da caneta bic para solucionar esse problema”, disse Bolsonaro em outro trecho da entrevista. O presidente reconheceu, na mesma entrevista, que o aumento direcionado aos policiais poderia ser questionado e derrubado na Justiça, “tendo em vista eu estar privilegiando categorias que são simpáticas a minha pessoa”. A redação é de Mateus Vargas, da Folhapress.