A aversão a Jair Bolsonaro (PL), pelo critério de intenção de voto, diminui entre homens e mulheres à medida que é maior à renda, mas o presidente sofre maior resistência entre o eleitorado feminino de todas as classes sociais, segundo a última pesquisa Datafolha. Homens são o grosso de sua base.
Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal rival dele na corrida presidencial, possui vantagem entre as mulheres independentemente de faixa social. Além disso, tem preferência mais robusta entre os mais pobres de ambos os gêneros. Homens ricos, contudo, tendem a se distanciar do petista.
O diagnóstico emerge do cruzamento dos dados de gênero e renda familiar colhidos no levantamento feito pelo instituto na quarta (25) e quinta-feira (26) da semana passada.
Lula registrou 48% das intenções de voto no primeiro turno, ante 27% de Bolsonaro. O resultado geral já apontava a vantagem do ex-presidente no eleitorado femininino. Entre elas, o petista chega a marcar 49%, ante 23% do atual mandatário, que se esforça para conquistar esse público.
A dissonância mais sensível entre a opinião dos dois gêneros se deu na faixa mais edinheirada, revelando uma divergência maior de percepção dos mais ricos sobre os favoritos na disputa ao Planalto.
Mulheres correspondem a 53% da amostra da pesquisa; homens são 47%. O grupo com ganho mensal familiar de até dois salários mínimos representa 52% do universo do eleitorado brasileiro. O intermediário equivale a 32% e o mais alto, 11%.
A intenção de voto em Bolsonaro entre as mulheres, em todas as rendas, é sempre numericamente inferior à registrada entre os homens, tanto na pesquisa espontânea (quando não são apresentados nomes de candidatos aos entrevistados) quanto nas estimuladas de primeiro e segundo turno.
A diferença entre os gêneros chega a 15 pontos percentuais entre os que têm renda superior a cinco salários e votam no presidente no primeiro turno: 44% dos homens, ante 29% das mulheres. A distância é menor dentro da parcela de até dois salários, com empate técnico: 21% (homens) e 20% (mulheres).
Na comparação entre pobres e ricos, fica evidente o maior apoio dos mais abastados financeiramente a Bolsonaro —embora persista a adesão maior de homens do que de mulheres.
Em um eventual segundo turno contra o petista, o presidente teria, entre quem ganha até dois salários, 26% (homens) e 24% (mulheres). Os percentuais sobem para, respectivamente, 44% e 35% no grupo de renda intermediária e para 50% e 36% no estrato acima de cinco salários.
Já Lula, que lidera o cenário geral da pesquisa, abre dianteira maior entre as mulheres conforme aumenta a classe social. Ele chega a 41% de intenção de voto entre o eleitorado feminino com renda superior a cinco salários, ante 32% dos homens desse mesmo nível de renda.
Entre o eleitorado mais pobre (dois salários ou menos), é o voto masculino que se destaca: o petista tem 59% dos votos deles e 54% dos votos delas no primeiro turno. Em um eventual segundo turno, a diferença do apoio dos diferentes gêneros a Lula é menor (66% entre homens e 67% entre mulheres).
As taxas de rejeição aos candidatos são outra forma de analisar o comportamento das três faixas de renda consideradas pelo Datafolha. No cômputo geral, Lula é repelido por 33% e Bolsonaro, por 54%.
Homens que se recusam a votar no petista são mais frequentes à medida que o rendimento avança (23%, 44% e 56%, indo dos mais pobres para os mais ricos). Entre as mulheres, os percentuais também crescem (25%, 37% e 41%, respectivamente), mas sem alcançar o nível da rejeição masculina.
Com Bolsonaro, a fatia feminina que refuta escolhê-lo na urna é alta nas três divisões por renda (60%, 56% e 56%). Já a rejeição do público masculino decresce à medida que o entrevistado é mais rico. Despenca de 59% entre quem tem renda de até dois salários para 43% entre os de cinco salários ou mais.
Registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número BR-05166/2022, a pesquisa foi contratada pela Folha e ouviu 2.556 eleitores acima dos 16 anos em 181 cidades de todo o país.
A margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, referente aos percentuais gerais, é maior quando observados os recortes dos grupos específicos, por causa do tamanho das amostras.
No caso dos estratos por renda e gênero, os intervalos máximos podem ser de quatro pontos (na camada com renda domiciliar mensal de até dois salários mínimos), cinco (dois a cinco salários), sete (homens acima de cinco salários) e dez (mulheres com mais de cinco salários). Segundo o instituto, mesmo com as margens de erro mais elevadas, os números são úteis porque indicam tendências.
No quesito avaliação do governo Bolsonaro, o pior resultado para Bolsonaro veio do grupo das mulheres ricas: 57% delas acham a gestão ruim ou péssima. Entre homens com renda acima de cinco salários, 35% pensam dessa forma. Na média geral da pesquisa, 48% veem a administração assim.
A avaliação negativa segue curva ascendente conforme a classe social. A positiva (ótima ou boa), que na média é de 25%, parte do patamar de 20% entre mulheres e homens mais pobres e bate em 32% (mulheres) e 41% (homens) na camada dos mais ricos.
Movimento semelhante ocorre em relação à confiança nas declarações de Bolsonaro. A crença plena (17% no resultado geral) aumenta conforme se eleva a faixa de ganhos. Homens, contudo, são os que mais acreditam nas falas do presidente (13%, 23% e 28%). Mulheres são 12%, 14% e 21%.
Em tentativa de amealhar votos femininos e reduzir a vantagem de Lula nesse grupo, o candidato à reeleição vem colocando em prática um plano que inclui a maior participação da primeira-dama Michelle Bolsonaro em medidas oficiais e ações de marketing do governo.
O primeiro anúncio do PL que será exibido na propaganda partidária obrigatória em TV e rádio, gravado na semana passada, também explora essa vertente. A peça mostrará Bolsonaro interagindo com mulheres e jovens, outra fatia do eleitorado em que viu o adversário ganhar terreno.
Michelle também se filiou ao PL para conseguir participar das ações de campanha sem tanta preocupação com empecilhos da legislação eleitoral. Estrategistas pretendem ampliar a presença dela como forma de ajudar o marido a diminuir a rejeição no eleitorado feminino. Com informações da Folha de São Paulo.