A expectativa dos pais durante a gestação de um bebê costuma crescer a cada mês, à medida em que os genitores recebem estímulos e informações sobre parto, aleitamento materno, enxoval, sexo do bebê e afins. O que ninguém espera é receber, durante consultas e exames pré-natais, a notícia de que algum tipo de malformação pode afetar o desenvolvimento normal do feto e, consequentemente, a vida do bebê ao nascer e/ou ao longo de sua vida. Quando isso acontece, sentimentos de preocupação, ansiedade e frustração costumam surgir na família. Nesses casos, a orientação e o acolhimento de profissionais de saúde qualificados são fundamentais, assim como o tratamento adequado da doença no tempo certo.
Entre os tipos de malformações identificadas durante a gestação com maior frequência destacam-se as urológicas, a exemplo da hidronefrose antenatal, dilatação dos rins, dos ureteres ou de ambos que, se não tratada adequadamente, pode causar infecção urinária e perda da função renal. Segundo o urologista Leonardo Calazans, a doença, decorrente de malformação do trato urinário, pode ser obstrutiva ou causar refluxo vesicoureteral. “No primeiro caso, a urina acumulada pela obstrução é responsável por dilatar os rins (Estenose de Jup), a bexiga e/ou os ureteres. Já o refluxo causa retorno da urina da bexiga para os rins, o que pode causar pielonefrites, ou seja, inflamações renais causadas por bactérias que sobem pelos ureteres, chegam aos rins e podem causar a perda da função renal”, explicou o especialista.
Hidronefrose
Em um dos exames de rotina realizados na 34ª semana de gestação de Ayla Helena, nascida em abril deste ano, seus pais Josué Francisco dos Santos e Lucemeire Pauferro foram surpreendidos com a notícia de que havia algo de anormal com o rim esquerdo da filha. Um segundo exame confirmou o diagnóstico de hidronefrose. Poucos dias após o nascimento, a menina teve uma infecção urinária e precisou ser internada em decorrência da doença. Apesar do susto inicial, o casal conseguiu manter a calma.
“Procuramos nos informar sobre os riscos, possíveis complicações e cuidados que deveríamos tomar quando ela nascesse. Ficamos preocupados, pois não sabíamos o quanto o problema poderia ser grave. Atualmente, enquanto esperamos o resultado de novos exames para dar sequência ao tratamento, nossa filha está em casa e passa bem. Confiamos em Deus, a quem pedimos que ela tenha força para superar tudo isso”, declarou o empresário Josué Francisco, pai da pequena Ayla.
Malformações
Outros tipos de defeito congênito do trato urinário que podem ser descobertos no pré-natal ou logo após o parto são: extrofia de bexiga (em que o órgão fica exposto para fora do abdômen), hipospádia (abertura da uretra abaixo do pênis ou no escroto ou no períneo – o normal seria na ponta do pênis/glande), hérnias inguinais e hidrocele (causados pelo não fechamento do canal inguinal, que liga o abdome à bolsa escrotal), megaureter (aumento do diâmetro do ureter, canal que comunica o rim à bexiga urinária e que transporta a urina), válvula de uretra posterior (doença séria que dificulta a micção desde o período fetal, podendo comprometer todo o trato urinário) e criptorquidia (ocorre quando os testículos não descem para a bolsa testicular e permanecem no abdome ou na parede abdominal após o nascimento do bebê), entre outros.
Independente de qual seja a malformação identificada na gravidez ou no pós-parto, é importante que o obstetra e os demais membros da equipe multidisciplinar que assistem o bebê estejam preparados para acolher e acalmar os pais desde o primeiro momento. Em muitos casos, quando o ultrassom revela o problema durante a gestação, o acompanhamento com urologista deve ser iniciado desde antes do nascimento do bebê. “Felizmente, boa parte das malformações identificadas antes do parto não são graves. Algumas são corrigidas naturalmente após alguns meses e outras através de tratamento clínico ou de procedimentos simples”, explicou o urologista Leonardo Calazans, médico referência do Hospital Mater Dei e coordenador da residência de Urologia das Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador.
Casos que requerem cirurgia geralmente são tratados nos primeiros dois anos de vida da criança. “Procedimentos minimamente invasivos, como as videolaparoscopias e cirurgias robóticas, têm sido cada vez mais indicados para operar os pequenos, que se beneficiam da recuperação e alta hospitalar mais rápidas, melhor efeito estético cicatricial, entre outras vantagens”, completou o médico, que também é diretor do núcleo de urologia do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica e coordenador do serviço de Urologia Pediátrica do Hospital Estadual da Criança, em Feira de Santana. Com informações de assessoria.