O presidente Jair Bolsonaro estava em viagem aos Estados Unidos quando, segundo o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, ligou para alertar que o ex-auxiliar poderia ser alvo de buscas na investigação sobre o gabinete paralelo chefiado por pastores no Ministério da Educação. Bolsonaro foi a Los Angeles para a Cúpula das Américas – o ministro da Justiça, Anderson Torres, integrou a comitiva brasileira.
A Polícia Federal, responsável pela Operação Acesso Pago, que, dias depois da ligação relatada por Ribeiro, prendeu o ex-ministro da Educação, é subordinada ao Ministério da Justiça. A PF mantém Torres informado de suas missões diariamente. A própria agenda oficial do titular da Justiça cita a participação na cúpula.
Em uma conversa telefônica interceptada pela PF, Ribeiro afirmou ter sido alertado por Bolsonaro sobre o risco de abrirem buscas contra ele. “Ele (Bolsonaro) acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa”, diz o ex-ministro da Educação no áudio. O diálogo de Ribeiro, com a filha, é interrompida tão logo ela afirma que está ligando do “celular normal”. “Ah, é? Ah, então depois a gente se fala”, responde Ribeiro.
A resposta chamou atenção dos investigadores, que suspeitam que o ex-ministro sabia que estava sendo grampeado. A Procuradoria da República no Distrito Federal pediu o envio do processo ao Supremo Tribunal Federal para que seja investigada “possível interferência ilícita” de Bolsonaro.
O delegado federal Bruno Calandrini, responsável pela investigação sobre o gabinete paralelo no MEC, disse acreditar que houve vazamento do inquérito. “Os indícios de vazamento são verossímeis e necessitam de aprofundamento diante da gravidade do fato aqui investigado”, escreveu o delegado em manifestação enviada à Justiça Federal em Brasília, anteontem.
Para Calandrini, as conversas interceptadas “evidenciam” que Ribeiro “estava ciente” de que sofreria buscas. O documento diz ainda que o exministro demonstrou “extrema preocupação” com os pastores presos Gilmar Santos e Arilton Moura. “Chamaram atenção a preocupação e a precisão da afirmação de Milton ao relatar à filha que seria alvo de busca e apreensão.” O Ministério Público Federal também viu indícios de vazamento e pediu investigação para saber se houve violação de sigilo e favorecimento pessoal.
Ribeiro foi preso na última quarta-feira. No dia seguinte, o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), cassou a decisão, e o ex-ministro deixou a carceragem da PF em São Paulo.
O advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, negou que o presidente tenha interferido na PF e falado com Ribeiro por telefone sobre o caso. Com informações do Estadão