Em entrevista ao Jornal Nacional, da Globo, na noite desta quinta-feira (25), o ex-presidente Lula (PT) expôs o ex-juiz Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e a própria emissora carioca, de forma indireta, em uma só pergunta de William Bonner sobre corrupção. O âncora abriu a entrevista citando que o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou Moro parcial e anulou a condenação de Lula no caso “triplex do Guarujá”, mas enfatizou que “houve corrupção na Petrobras”.
“Como o senhor vai convencer os eleitores que isso não vai se repetir?”, perguntou Bonner. Lula, então, disse que considera importante tocar nesse tema pois, segundo ele, foi “massacrado durante 5 anos” e hoje está “tendo a oportunidade de falar disso abertamente ao vivo”.
“Primeiro, a corrupção só aparece quando você permite que ela seja investigada. Foi no meu governo que a gente criou o Portal da Transparência, Lei de Acesso à Informação, lei contra o crime organizado, lavagem de dinheiro, Coaf”, afirmou o ex-presidente, citando outras medidas de fortalecimento de mecanismos de combate à corrupção criados em seu governo.
Na sequência, Lula citou a operação Lava Jato. “Enveredou um caminho complicado. Saiu do limite da investigação e passou para a política. O objetivo era condenar o Lula”, declarou, relembrando da ocasião em que, durante oitiva com Sergio Moro, disse frente a frente ao ex-juiz: “Você está condenado a me condenar”.
O petista ainda relembrou que o primeiro habeas corpus protocolado por sua defesa contra sua condenação no caso do “triplex do Guarujá” foi muito antes das revelações de Walter Delgatti, o “hacker de Araraquara”, que trouxe à tona mensagens de procuradores da operação. “Depois tudo se comprovou”, disse, fazendo referência às ilegalidades da operação que sua defesa já apontava.
“Vou dizer: não há hipótese. Quero voltar à presidência, e qualquer hipótese de qualquer crime, essa pessoa será investigada, julgada e punida. É assim que se combate a corrupção”, emendou.
Bonner, então, insistiu, que medidas tomaria para evitar casos de corrupção em um eventual próximo governo do petista. “As primeiras medidas estão colocadas. Eu poderia ter escolhido um procurador engavetador, poderia ter feito isso e não fiz, escolhi da lista tríplice. Poderia ter colocado um delegado na Polícia Federal que eu pudesse controlar, não fiz. Vamos continuar criando mecanismos para investigar qualquer delito na máquina pública brasileira”, pontuou.
Logo depois, Lula expôs Bolsonaro: “Eu poderia, por exemplo, fazer decreto de sigilo de 100 anos, sabe, que está na moda? Sigilo para os meus filhos, assessores. Ou colocava um tapetão para não investigar”. Na mesma resposta, o ex-presidente ainda teve tempo para expor, de forma indireta, a própria TV Globo: “Aqui no Brasil as pessoas são condenadas por manchetes de jornal”.
MST
Lula falou sobre pacificar o país quando foi questionado sobre MST. Ao dizer que o MST não é mais o mesmo de 30 anos atrás, ele emendou com uma fala de que fazendeiros apoiam Bolsonaro porque o presidente está facilitando acesso a armas de fogo no campo. Mas, segundo Lula, arma não é a solução. Foi quando ele disse que quer pacificar o país.
“O MST está fazendo uma coisa extraordinária, está cuidando de produzir, não sei se você sabe, o MST hoje tem várias cooperativas, o MST é o maior produtor de orgânicos do Brasil você tem que visitar uma cooperativa do MST, Renata, você vai ver que aquele MST de 30 anos atrás não existe mais. Agora, o Bolsonaro está ganhando o fazendeiro porque está liberando arma, tem gente que acha que é bom ter arma em casa, que acha que é bom matar alguém, não, o que nós queremos é pacificar esse país”, disse Lula.
Ouça abaixo a fala completa do ex-presidente sobre o tema:
“Tenho uma obsessão: Voltar para provar que posso fazer ainda mais”
O petista foi enfático sobre seu projeto de retornar à vida pública depois de todos os percalços que enfrentou, inclusive a injusta prisão na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, que durou 580.
Questionado sobre esse retorno à política depois de ter chegado ao cargo máximo da nação, Lula disse que poderia ter ficado até o fim da vida apenas desfrutando da reputação de ter sido considerado o “governante brasileiro com a melhor avaliação de todos os tempos”, mas resolveu voltar.
“Eu vou voltar a governar esse país, se assim o povo permitir, e vou fazer as coisas melhores do que as que eu já fiz. A minha obsessão, Bonner, a minha obsessão… Um homem de 76 anos de idade, que digo todo dia que tem a energia de um de 30, querer voltar a governar esse país, mostrar que é possível recuperar esse país, a economia voltar a crescer, gerar emprego, gerar melhoria nas condições na vida das pessoas, eu estou convencido disso… Se eu não acreditasse nisso, eu preferia ficar em casa, sabe, vivendo os louros de ser o melhor presidente da história desse país, mas não!”, disse Lula, claramente embargado. Com informações da Revista Fórum e do g1.