A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, disse que não percebeu que um homem apontou uma arma e tentou atirar contra ela na noite da quinta-feira (1º). A afirmação foi dada, segundo a mídia argentina, durante o depoimento dela à juíza Maria Eugenia Capuchetti e ao promotor Carlos Rívolo ao longo desta sexta-feira (2).
No mesmo testemunho, ela disse que só percebeu que havia sofrido um atentado quando chegou em casa e viu as imagens.
Nas gravações do momento do atentado, a vice-presidente se abaixa no instante em que uma arma é apontada contra ela. Segundo o depoimento, ela se abaixou para pegar um livro de um apoiador que havia caído no chão e autografá-lo, e não para se proteger do disparo, como os vídeos deram a entender inicialmente.
O depoimento foi prestado por ela em seu apartamento no bairro de Recoleta, em Buenos Aires. De acordo com a mídia argentina, Cristina se limitou a contar o que lembrava da noite anterior e não fez avaliações políticas ou queixas contra a Justiça. Também não pediu para ser parte acusatória do caso, condição que lhe permitiria acessar os autos, e falou como testemunha.
Outras cerca de 30 pessoas foram convocadas para prestar depoimento desde o atentado, segundo o Clarín. O suspeito – um brasileiro de 35 anos identificado como Fernando Sabag Montiel que possuía tatuagens neonazistas – também foi interrogado, mas se recusou a falar.
De acordo com o Clarín, ele se limitou a pedir um oftalmologista alegando que havia sido agredido no olho por militantes antes de ser preso. A detenção foi realizada imediatamente após o ataque.
O suspeito teve um celular apreendido, e a polícia encontrou mais de 100 munições em sua casa. Os registros de chamadas recebidas e realizadas foram solicitados judicialmente para saber se ele agiu sozinho ou com ajuda de terceiros.
O caso é investigado como tentativa de homicídio qualificado contra a vice-presidente. Também não se sabe ainda o motivo da arma não ter disparado.
Em entrevista ao Estadão, o especialista Ivan Marques, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e ex-integrante Instituto Sou da Paz, levantou três hipóteses pela qual a arma pode ter falhado.
São elas: falha da munição (provocada por mal armazenamento ou esgotamento do prazo de validade); erro no funcionamento da arma por retirada ou problema nas peças; e inabilidade do atirador, que pode não ter percebido que a arma não estava pronta para uso.
Sessão de repúdio no Congresso
Neste sábado (3), a Câmara dos Deputados da Argentina vai realizar uma sessão especial para repudiar o ataque contra Cristina Kirchner e exigir “rápida investigação e condenação dos responsáveis”. Os membros do Juntos pela Mudança e de outros grupos de oposição ainda não definiram se vão participar.
A decisão de convocar uma sessão especial solicitada pela Frente de Todos (FdT) foi oficializada na sexta-feira após o término da reunião de gabinete na Casa Rosada, na qual participaram o presidente da câmara, Cecilia Moreau, e o chefe do bloco de deputados do governismo, Germán Martínez.