Na comunidade portuguesa de ‘Mato grosso’, em Rio de Contas, na Chapada Diamantina, há o costume de primos se casarem entre si há três séculos. Os casais contam que se tornou uma espécie de tradição e assim eles perpetuam os laços de sangue.
Um exemplo é Ana Angélica Mafra, 44 anos, que se casou com o seu primo de primeiro grau, Valdeck Mafra, de 59. Juntos, eles têm uma filha de 23 anos. O engenheiro elétrico Joé Mafra, 48 anos, que atualmente mora em São Bernardo do Campo (SP), também se casou com uma prima, embora hoje seja divorciado.
Conforme informações, uma das hipóteses que explicaria o início da tradição para os casamentos consanguíneos seria um senso eugênico de preservação do sangue europeu para não misturar com o dos negros escravizados, trazidos para trabalhar no garimpo.
“Estas comunidades se relacionam de forma intensa há muito tempo, inclusive com ajuda mútua. Não há um sentimento de segregação, embora a gente entenda que, lá atrás, a escravidão era um ponto de separação. Hoje existe uma ressignificação muito forte e um sentimento de união e pertencimento de quilombolas e portugueses”, pontua Shirlene Mafra, doutora em Memória e Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ao Correio 24 horas.
Esses laços consanguíneos misturados por três séculos levaram à uma frequência de doenças autossômicas recessivas para a comunidade, no qual acontece quando há uma forte combinação de genes não dominantes de pais e mães, próprio em reprodução entre familiares.
“Quanto mais próximo for o grau de parentesco, maior a chance de filhos com condições genéticas recessivas. Por exemplo, no caso de primos de primeiro grau, o risco é maior do que para casal de primos de segundo grau”, explica Larissa Souza Mario Bueno, médica geneticista, ao site. Jornal da Chapada com informações de texto base do Correio 24 horas.