A expectativa para o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL) a respeito da derrota no segundo turno das eleições no último para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após quase 48 horas de silêncio era enorme nos grupos de WhatsApp, Telegram e nas páginas de apoiadores nas redes sociais. Depois de ouvir o discurso, finalmente realizado nesta terça-feira (1), muitos bolsonaristas se sentiram convocados a manter bloqueios de ruas e estradas em nome de uma suposta “fraude eleitoral” que, segundo sua narrativa, teria sido fundamental para a derrota do “mito”.
“Mesmo que o presidente se pronuncie, ele não pode falar para o povo continuar nas ruas, senão vira golpe de estado. Então independente do que ele vai falar, precisamos nos manter firmes como resistência”, disse um apoiador momentos antes do pronunciamento. Outro concordou: “Temos que continuar nas ruas”
No discurso feito no Palácio da Alvorada, o ainda mandatário agradeceu os votos que obteve e defendeu os atos golpistas de bolsonaristas que não aceitam o resultado eleitoral e que vêm bloqueando rodovias. “Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas”, declarou. O presidente, no entanto, disse também que “os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedade, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”. Em nenhum momento, entretanto, Bolsonaro pediu para que os manifestantes interrompam os bloqueios.
A fala soou como uma convocação nos grupos e espaços de discussão bolsonaristas. “Foi nítido e claro: temos que manter as ruas, não vamos parar”, disse um internauta. “Para bom entendedor meia palavra basta”, concordou outro. Um terceiro internauta chegou a dizer que a fala do futuro ex-presidente foi neutra e entendeu o recado como uma sinalização de que o mandatário não pretende abandonar o cargo: “Foi neutro, isso significa que não jogou a toalha”.
Pegando carona em trecho do pronunciamento em que o presidente exalta as mobilizações da extrema-direita, é quase consenso entre os apoiadores de que não podem ser empregados métodos de ação política que lembrem as esquerdas. “Bolsonaro não pediu para pararmos, ele pediu para fazer de maneira constitucional para não nos igualarmos aos esquerdistas”, afirmou um internauta.
Uma das estratégias de última hora do presidente consiste em desassociá-lo dos bloqueios. Uma peça amplamente divulgada nos grupos de WhatsApp pede, em letras garrafais: “Retirar todas as fotos e músicas do Bolsonaro das manifestações, ele pode ser responsabilizado e preso”. Uma outra mensagem amplamente divulgada orienta os bolsonaristas a irem para os quarteis sem referências ao atual presidente e aguardarem lá com trajes verdes e amarelos.
Há um grande temor em relação ao termo “intervenção militar”. Muitos usuários mostram medo de serem investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Por essa razão, desde a última segunda-feira, diversos grupos bolsonaristas passaram a usar o termo “civil” em em seus nomes: “resistência civil” e “força civil” são os mais comuns de acordo com levantamento da BBC Brasil. Redação da Revista Fórum com informações da BBC Brasil.