Após criticar Jair Bolsonaro e recuar na postura beligerante contra o Supremo Tribunal Federal (STF) em entrevista à Folha de S. Paulo, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) decidiu – ou ao menos tentou – se explicar aos seus seguidores radicais, buscando conter a ira de boa parte dos bolsonaristas que passou a tachá-la de traidora.
Em uma live no Instagram horas após a divulgação da entrevista, nesta quinta-feira (23), Zambelli, uma das lideranças bolsonaristas de postura mais agressiva, apareceu cabisbaixa, tentando convencer seus até então apoiadores que não quer ver Jair Bolsonaro preso e que decidiu parar de atacar Alexandre de Moraes pois, caso o ministro fosse afastado, o presidente Lula “colocaria” em seu lugar um ainda “pior”.
“O que eu disse é que não é hora da gente brigar com o STF, é hora da gente mirar no PT. Não é que eu peço trégua ao STF. Eu estou dando trégua ao STF”, disse em um dos trechos da transmissão ao vivo, intitulada “Live sobre o título da entrevista para a Folha!”.
Apesar da tentativa, a live de quase 1 hora de Zambelli não convenceu a maior parte dos bolsonaristas, que permaneceu condenando sua mudança de postura ao longo da transmissão. “E pensar que vc ferrou c a campanha do Presidente sacando sua arma contra um esquerdista! Agora faz isto…pqp! Surreal tudo que estamos vendo e vivendo!”, escreveu, por exemplo, uma apoiadora de Bolsonaro.
“Quando você vai na casa do seu inimigo. Falar mal do seu amigo. Só tem um nome: Falsidade e trairagem. Enfim poderia ter escolhido outros meios de comunicação, mas escolheu um que sabemos que não tem imparcialidade. A Sra trocou os pés pelas mãos”, afirmou outra seguidora, em meio a inúmeros comentários do tipo.
Assista a um trecho da live
"Não é que eu peço trégua ao STF. Eu estou dando trégua ao STF" – diz Carla Zambelli após pedir para não atacarem mais o STF e ter tentado ligar pro Xandão
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Afinou
Em entrevista à Folha publicada nesta quinta-feira (23), além de fazer duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que, segundo ela, deveria estar no Brasil liderando a oposição, Carla Zambelli disse que também procurou Alexandre de Moraes, juiz do Supremo Tribunal Federal (STF), dizendo que estava “à disposição para conversar”.
Sobre o pedido de impeachment de Moraes, que até então era uma das pautas do bolsonarismo, ela afirma agora que é contra. “Bolsonaro não ganhando, a gente tem que virar a chave. Qualquer impeachment no STF, o substituto vai ser indicado por Lula. Pode entrar uma pessoa que faça as maldades do Alexandre de Moraes parecerem uma criança chupando picolé”, afirmou.
Ela disse ainda que procurou Moraes para conversar: “liguei e mandei um email. Alguns dias depois, minha rede foi devolvida, pode ter sido um gesto. Estou à disposição dele para conversar. Porque ele vai ser um alvo do PT daqui a pouco. O PT não vai se contentar em indicar somente os dois ministros que vão se aposentar”, comenta.
Zambelli afirma também discordar da maneira como Bolsonaro levou aquele tempo todo [para falar após a eleição] e o silêncio que teve. “Ele tinha que organizar a oposição, orientar a gente, ele tinha 28 anos de Câmara. Tínhamos que mostrar nosso descontentamento até para incentivá-lo a ser a voz da oposição”, ressaltou.
Ela discorda que Bolsonaro esteja foragido nos Estados Unidos, mas, ao mesmo tempo, acha que ele corre o risco de ser preso se voltar ao Brasil. “Não acho que seja fugir. Passar um tempo fora para pensar no que vai fazer é legítimo. Mas concordo que ele deveria estar aqui para liderar a oposição. A gente teria mais condições, capacidade e força”, completou.
Perguntada se tem medo de ser presa, a deputada desconversa: “medo não é a palavra, mas expectativa, sim. Não como uma boa expectativa. Várias vezes fui dormir pensando que ia ter que acordar às 6h com a Polícia Federal na minha porta”, encerra.