O vilarejo de Sumidouro está localizada no município de Brotas de Macaúbas, Chapada Diamantina, onde vivem um pouco mais de 200 pessoas. Apesar do seu tamanho, é o primeiro lugar do país que utiliza a ciência cidadã e a conservação comunitária para proteger o tatu-bola-da-caatinga.
Esse vilarejo se uniu em prol da espécie e criou projeto para a conservação ambiental em proteção ao tatu-bola-da-caatinga e assim salvar esse animais que sofrem com a caça excessiva. O biólogo Rodolfo Assis Magalhães e sua equipe vasculharam silenciosamente os campos que margeiam a floresta para capturar o tatu-bola-da-caatinga.
A perseguição é parte de um novo projeto em curso no vilarejo de Sumidouro, que tem como objetivo compreender as tendências da população da espécie, utilizando monitoramento de longo prazo, e promover a conservação por meio da ciência cidadã. Apesar do passado complicado com a espécie, a comunidade passou a abraçar a proteção do tatu, oferecendo apoio vital ao projeto.
Listado como vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o tatu-bola-da-caatinga é ameaçado por diversos fatores. A degradação da terra na Caatinga, causada pela criação de gado, a agricultura itinerante, o cultivo de algodão e a extração de madeira e carvão.
Todos esse fatores, combinados, reduziram o habitat do tatu a cerca de metade de sua cobertura florestal original. Hoje, menos de 9% do bioma é formalmente protegido por Unidades de Conservação, e apenas 1,8% recebe proteção legal total.
“Primeiro, iniciamos um programa de monitoramento do tatu no vilarejo como parte de um levantamento geral de biodiversidade para o licenciamento ambiental de um parque eólico”, diz Magalhães, pesquisador-chefe do projeto, que tem apoio do programa Edge (Espécies Evolutivamente Distintas e Globalmente Ameaçadas), na sigla em inglês, da Sociedade Zoológica de Londres. “Mas, então, percebi que era uma oportunidade fantástica de fazer algo mais por essa espécie carismática”.
A comunidade tem desempenhado um papel crucial na coleta de dados valiosos sobre o tatu em Sumidouro desde o início do projeto. Assistentes de campo locais monitoram o animal em terras agrícolas e trechos de floresta enquanto moradores do vilarejo relatam avistamentos de tatus para a base de dados do projeto, fornecendo fotos e coordenadas de GPS. Combinar esses dados a uma técnica estatística conhecida como “modelo de ocupação” permite que os pesquisadores criem um retrato abrangente da ocorrência e dos movimentos do tatu.
“Na verdade, sabe-se relativamente pouco sobre como essa espécie utiliza o habitat em paisagens modificadas pelo ser humano, mas, ainda assim, esse tipo de dado é essencial para a conservação efetiva da espécie”, diz Flavio Rodrigues, professor da Universidade Federal de Minas Gerais e supervisor do projeto.
O tatu se tornou um símbolo do orgulho local em Sumidouro. “Nós realmente não tínhamos muita compreensão sobre o tatu e sua importância antes, mas agora temos consciência sobre preservar a fauna e a flora da área”, diz Claudimiro Souza, presidente da associação de produtores rurais locais. “Ganhamos muito mais preservando esse animal do que matando. Por isso, abraçamos a causa e esperamos que ela trará visibilidade para nossa comunidade”.
A abordagem da conservação focada na comunidade em Sumidouro no futuro pode se tornar um modelo para a proteção do tatu-bola-da-caatinga e outras espécies ameaçadas da Caatinga, como o veado-catingueiro (Mazama gouazoubira), o mocó (Kerodon rupestris) e o gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus). “Nas condições corretas, acreditamos que esse tipo de projeto possa ser reproduzido em outras áreas”, diz Rodrigues. “Agora, precisamos encontrar outras Sumidouros”. As informações são do Mongabay.