Em formatos e modelos variados e com muitas opções de aromas e sabores, o cigarro eletrônico, ou vape, é um símbolo de status social e mania entre os jovens nos grandes centros urbanos. Seu uso por adolescentes e adultos tem crescido a passos largos em todo mundo. No Brasil, a fabricação, importação, publicidade e comercialização dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) são proibidas em todo território nacional por meio de resolução da ANVISA. Apesar disso, muitos brasileiros conseguem “dar um jeitinho” e adquirem o dispositivo através de compras on-line ou viagens ao exterior.
“O crescimento do número de jovens brasileiros que usam o cigarro eletrônico é um fator preocupante. Além de nocivos à saúde, esses dispositivos são considerados um passo para o cigarro tradicional”, afirma a oncologista Clarissa Mathias, do NOB Oncoclínicas. “Muitas pessoas começam com o cigarro eletrônico e depois migram para o convencional, que é muito mais barato e acessível, já que o vape é proibido no país. Em alguns casos, a pessoa passa até mesmo a usar o cigarro convencional e o vape”, acrescenta. De acordo com dados do Covitel – Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia, um em cada cinco jovens brasileiros, de 18 a 24 anos, usa cigarros eletrônicos.
Cigarro eletrônico: substâncias tóxicas, cancerígenas e viciantes
O cigarro eletrônico foi criado como uma alternativa ao cigarro de papel e uma suposta forma para apoiar a cessação do tabagismo, mas o que ocorre é exatamente o contrário. De acordo com o estudo “Risco de iniciação ao tabagismo com o uso de cigarros eletrônicos”, elaborado pelo INCA e publicado na Revista Ciência e Saúde Coletiva, o uso de cigarros eletrônicos aumenta em quase três vezes e meia o risco de experimentar o cigarro convencional, e em mais de quatro o risco de passar a fumar o cigarro.
De acordo com o instituto, o cigarro eletrônico pode ser tão prejudicial quanto o cigarro tradicional, pois combina nicotina com outras substâncias tóxicas e, além de doenças respiratórias graves, pode causar vários tipos de câncer e doenças cardiovasculares. Além da nicotina, muitos produtos químicos têm sido adicionados junto com aromatizantes e conservantes, aditivos tóxicos, como álcool benzílico, benzaldeído, vanilina, acroleína, diacetil e substâncias psicoativas como o tetrahidrocanabino, que, por si só, já podem causar inúmeros danos à saúde e dependência.
“Um único vape pode equivaler a um maço com vinte unidades do cigarro convencional”, explica Clarissa Mathias. “Inúmeros estudos mostram que esses dispositivos usam solventes, aditivos, substâncias químicas cancerígenas, algumas inclusive desconhecidas, e extremamente tóxicas. Quando uma pessoa usa o cigarro eletrônico, ela, geralmente, não sabe sequer o que está inalando”, comenta.
Conscientização
“Com as políticas públicas de controle do tabagismo, o Brasil conseguiu reduzir exponencialmente o número de fumantes, agora é preciso conscientizar a população sobre os riscos do uso desses dispositivos eletrônicos, caso contrário vamos retroceder a passos largos”, afirma Clarissa Mathias. “Os pais devem dialogar com seus filhos e precisam estar atentos ao risco desse vício. O cigarro eletrônico é muito atrativo para os jovens, mas definitivamente não é um dispositivo nem seguro nem inofensivo”, complementa a médica.
Arsenal contra o câncer de pulmão
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o cigarro é responsável por 25% de todas as mortes por câncer no mundo. O tratamento dos tumores de pulmão conta com um arsenal de terapias cada vez mais avançadas e se baseia em cirurgia, tratamento sistêmico (quimioterapia, terapia alvo e imunoterapia) e radioterapia. “As cirurgias para retiradas dos tumores torácicos também têm tido avanços enormes e com as técnicas minimamente invasivas já é possível a retirada do tumor com cada vez menos tempo de internação e retorno mais rápido do paciente às suas atividades”, esclarece a oncologista.
A especialista explica ainda que, muitas vezes, a quimioterapia é indicada após a cirurgia para destruir células tumorais microscópicas residuais ou que estejam circulando pelo sangue. Em alguns casos, a terapia-alvo também é indicada após a cirurgia. Essa terapia, que também representa um grande avanço na oncologia, usa drogas para atacar especificamente as células cancerígenas, preservando as células saudáveis.
A combinação de terapia sistêmica e radioterapia também pode ser administrada no início do procedimento para reduzir o tumor antes da cirurgia, ou mesmo como tratamento definitivo, quando a remoção cirúrgica está contraindicada. A radioterapia isolada é utilizada algumas vezes para diminuir sintomas como falta de ar e dor.
Um dos grandes avanços da ciência na luta contra o câncer é a imunoterapia, que tem revolucionado o tratamento dos tumores de pulmão e proporcionado mais qualidade de vida e maior sobrevida aos pacientes. “A imunoterapia ativa o sistema imunológico através de uma combinação de medicamentos biológicos para lutar contra o tumor”, conclui Clarissa Mathias.