A Feira Literária de Mucugê (Fligê) 2023, principal atividade literária da Chapada Diamantina, contará com o lançamento do livro ‘Mulher Preta na Política’, primeira obra da deputada estadual Olívia Santana. A atividade, que contará com uma roda de conversa e lançamento da obra, acontecerá dia 19 de agosto, a partir das 9h.
Realizado em parceria com a editora Malê, o livro é um relato pessoal, um documento histórico e um gesto de convocação para que mais mulheres negras adentrem o espaço da política. A obra já foi lançada em Brasília, no Museu Nacional, Rio de Janeiro, no Museu do Amanhã, no Maranhão, na Praça dos Poetas, em São Luís, e na Bahia, na Casa Mulher com a Palavra, em Salvador, onde foi a obra mais vendida.
Na escrita, Olívia ressalta o quanto cada fragmento de experiência marca sua práxis política. Projetos de lei de sua autoria, como o que instituiu em Salvador o ‘Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa’, e que inspirou a lei nacional, têm conexão direta com a reverência que lhe despertou ainda na infância a liderança de Yá Feliciana, a energia de festa e respeito que circundava em seu terreiro.
O compromisso de Olívia com a Educação, adquirida desde sua formação em Pedagogia, vem transversal em sua atuação tanto como gestora quanto como legisladora. O que encontra grande simbolismo na Lei Municipal de Incentivo ao Livro e à Cultura da Leitura, iniciativa do seu mandato, enquanto vereadora de Salvador.
Nem todos os relatos do livro, entretanto, apontam para vitórias e alegrias. Ser mulher negra na política também é confrontar-se, cotidianamente, com violências diversas, de isolamento, de não pertencimento e mesmo de retaliação. Em 2001, protagonizou a resistência a uma ação truculenta de policiais no campus de Direito da UFBA, e socorreu um jovem estudante ferido. Encontrar maiorias brancas e masculinas nos espaços de decisão também marca o desafio da sobrevivência diária, muitas vezes em meio a um ambiente de hostilidade e descredibilização.
O livro Mulher Preta na Política é para Olívia Santana um manifesto de suas escrevivências, conceito de Conceição Evaristo desenvolvido como uma articulação entre escrita e oralidade, possibilidade de transmitir uma história e também se curar das chagas da injustiça social através da palavra.
Às intelectuais negras que a inspiram em sua jornada, como Carolina Maria de Jesus, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros e Keeanga-Yamahtta Taylor, Olívia se soma na disputa de narrativas que a voz e a escrita de mulheres negras vêm travando com “os perigos da história única”, tão bem descritos por Chimamanda Ngozi Adichie no TED Talk, em 2009.
Jornal da Chapada