A deputada estadual fluminense Lúcia Helena Pinto de Barros (PSD), conhecida como Lucinha, foi alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal na Operação Batismo, deflagrada nesta segunda-feira (18). O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) determinou seu afastamento do cargo público por suspeita de envolvimento com milícia.
Segundo a apuração policial, Lucinha seria o braço político da milícia “Bonde do Zinho”, o maior grupo paramilitar do estado. A organização é chefiada por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, e atua na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Entre os oito mandados busca e apreensão expedidos pela Justiça contra a parlamentar, estão o gabinete da deputada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e na sua casa, em Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio. Uma de suas funcionárias, a assessora Ariane de Afonso Lima também foi alvo da PF.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) ainda proibiu Lucinha de frequentar as duas sedes da Alerj: o Palácio Tiradentes e a nova sede, apelidada de Alerjão.
A Operação Batismo é um a fase seguinte da Operação Dinastia, deflagrada pela Polícia Federal em agosto de 2022, com a finalidade de prender Zinho e outros 22 aliados pelos crimes em conflitos entre organizações criminosas, a partir de investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Em junho de 2021, o ex-líder da milícia, Wellington da Silva Braga, o Ecko, foi morto em confronto com a Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIm). Sua morte representou a ascensão de outro irmão seu, o atual comandante do grupo, o Zinho.
Então responsável pela contabilidade da operação, ele assumiu o comando da milícia e declara guerra ao miliciano Danilo Dias, o Tandera, que havia se aliado aos milicianos da Zona Norte do Rio após desavenças e rompimento com o Bonde do Zinho.
De acordo com as investigações, a deputada Lucinha estaria associada com o alto escalão do Bonde do Zinho. Os indiciamentos do MPRJ e da PF apontam que a parlamentar é suspeita de interferência na segurança pública do Rio para a soltura de milicianos presos em flagrante.
Em 2017, a Operação Pandora da Polícia Federal descobriu que a milícia pagava R$ 40 mil por mês pelo vazamento de informações privilegiadas da Secretaria de Segurança Pública, de modo a facilitar as atividades do grupo sem a presença das forças policiais.
A apuração também indica que Lucinha ajudou no vazamento de informações de operações policiais com o objetivo de capturar milicanos e tentou alterar o comando do batalhão da Polícia Militar em Santa Cruz, região sob controle do Bonde do Zinho.
O Bonde do Zinho
O “Bonde do Zinho”, anteriormente denominado “Liga da Justiça”, é uma milícia que atua no Rio de Janeiro desde a virada dos anos 2000, em uma fusão entre famliares e a Liga da Justiça, uma milícia criada na metade da década de 1990 na Zona Oeste.
Em outubro, o grupo paramilitar incendiou 35 ônibus e um trem do Rio após o assassinato do segundo na hierarquia do comando da milícia, o miliciano Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão, pela Polícia Civil.
Os ataques se concentraram nos bairros sob controle da milícia, como Campo Grande, Inhoaíba e Santa Cruz, e áreas que já estiveram em domínio ou estão em disputa, a exemplo de Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes. Foram incendiados 20 ônibus municipais, 10 veículos de turismo e fretamento, e 5 BRTs, além do trem da SuperVia.
O comandante de Rio das Pedras na época, Carlinhos Três Pontes, foi um dos primeiros milicianos a formar alianças entre traficantes e milicianos, o que deu origem ao fenômeno da “narcomilícia”, termo utilizado para descrever a milícia do Gardênia Azul, por exemplo.
Em 2019, um relatório do Ministério Público do Rio apontou que mais de aproximadamente 180 territórios na Baixada Fluminense são controlados pela união de paramilitares e traficantes.
Com a morte de Carlinhos, assumiu o comando da milícia seu irmão, Wellington da Silva Braga, o Ecko. Nesta passagem, o grupo passou a se autodenominar “Bonde do Ecko” e se espalha pela Baixada Fluminense por meio de um esquema de franquias – a quadrilha financiava armamentos e homens mediante o retorno de porcentagens dos lucros locais.
A Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco) da Polícia Civil estimou que Ecko acumulasse mais de 400 seguranças e faturamento de R$ 5 milhões mensais apenas no bairro de Santa Cruz. As informações são da Fórum.