A morte de uma turista brasileira na Indonésia, após cair em um vulcão, reacendeu o alerta sobre os riscos envolvidos em trilhas de aventura na Chapada Diamantina. Os frequentes resgates de visitantes feridos ressaltam a importância de contar com um número adequado de guias e de reforçar os cuidados em percursos por áreas remotas e de difícil acesso.
De acordo com denúncias feitas por condutores experientes, algumas empresas de turismo que atuam na Chapada Diamantina estariam organizando expedições com número reduzido de guias, mesmo diante da complexidade e duração dos percursos. Em muitos casos, apenas dois profissionais são designados para acompanhar grupos com até 30 pessoas, em trilhas que se estendem por até cinco dias consecutivos. Além da responsabilidade de guiar os participantes por terrenos acidentados e isolados, esses condutores ainda acumulam outras funções pesadas: são eles que carregam parte das bagagens, preparam as refeições e gerenciam toda a logística da jornada.
Há relatos de que, em trechos mais exigentes ou quando um dos guias precisa se ausentar, apenas um profissional chega a ficar encarregado por todo o grupo, o que aumenta significativamente os riscos de acidentes e dificulta qualquer resposta rápida diante de emergências.
No mês passado, uma turista fraturou o pé e foi transportada por moradores em uma mula por 16 km até Andaraí, após 72 horas de espera por resgate aéreo, que não foi possível devido ao clima. A Chapada Backpackers, envolvida em outros três resgates, afirmou seguir padrões de segurança, com um guia para até cinco clientes e segundo guia a partir de seis.
Embora as normas técnicas da ABNT estabeleçam uma proporção ideal entre guias e turistas em trilhas de aventura, a fiscalização dessa regra no Brasil ainda enfrenta desafios. A regulamentação é considerada pouco rigorosa e a aplicação efetiva das normas depende de órgãos públicos.
A Portaria nº 3.299, publicada em outubro de 2024, atribuiu ao ICMBio a responsabilidade pela supervisão dessas atividades no Parque Nacional da Chapada Diamantina. Porém, conforme denúncia encaminhada ao Ministério Público Federal e relatos colhidos pela reportagem, essa fiscalização ainda não ocorre de forma consistente na região.

Tensão entre demanda crescente e fiscalização insuficiente
Em 2024, o Brasil foi reconhecido pelo ranking da US News & World Report como o principal destino para turismo de aventura, o que aumentou significativamente o fluxo de visitantes na Chapada Diamantina, incluindo turistas internacionais. Essa crescente procura coloca a região em destaque no cenário do ecoturismo mundial.
Apesar da popularidade, a infraestrutura local ainda mantém características informais. Os resgates, que contam tanto com helicópteros quanto com a colaboração dos moradores conhecidos como “patizeiros”, enfrentam desafios naturais constantes, como terrenos íngremes e mudanças repentinas no clima, que dificultam o acesso rápido e seguro às áreas mais isoladas.
Rafael Lage, guia de trilhas com 15 anos de experiência e responsável pela denúncia apresentada ao Ministério Público Federal, afirma que algumas agências locais vêm explorando o aumento da procura por turismo de aventura para economizar recursos. “Usam a estrutura das casas dos moradores do parque, colocam eles para cozinhar e carregar a comida, em vez de comprar nos povoados”, afirma. Segundo ele, os valores cobrados em trilhas de cinco dias caem para cerca de R$ 1 mil, abaixo da média de mercado, que gira entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil.
O guia recomenda que a proporção ideal seja de um guia para cada quatro turistas, ressaltando que essa medida é fundamental para garantir a segurança durante as trilhas. “Caso um guia questione práticas inseguras, ele pode ser retaliado e excluído das escalas de trabalho”, relata. Após tornar a denúncia pública, ele foi agredido por um colega da agência Chapada Backpackers. “Perguntei o motivo da agressão, ao que ele respondeu apenas: ‘Você sabe o porquê’. E repetiu algumas vezes essa frase”, contou no boletim de ocorrência registrado em Palmeiras.
Ainda de acordo com Lage, a principal preocupação reside na falta de dados concretos e na inexistência de investigações detalhadas sobre os acidentes que ocorrem nas trilhas. “Eles criam um histórico desses acidentes? Tem investigação pra saber se foi acidente comum ou se foi acidente culposo causado por imprudência?”, questiona. Enquanto o número de turistas cresce, os condutores relatam insegurança para denunciar e trabalhar com tranquilidade, em um cenário de pressão e pouca fiscalização efetiva.
Mesmo diante das denúncias, Rafael Lage reforça que a Chapada Diamantina continua sendo um destino seguro para o turismo de aventura. “O problema é pontual, restrito a algumas agências que priorizam lucro e negligenciam a segurança. A Chapada tem muitos guias capacitados e agências sérias. É seguro vir, desde que o turista pesquise bem quem está contratando”. Jornal da Chapada com informações do portal Agência Pública.
















































