A Bahia apresenta atualmente a maior taxa de letalidade policial entre os grandes estados do Brasil. Segundo dados analisados pelo jornalista e pesquisador Joseph Bouchard, publicados pelo Intercept Brasil, em 2023 e 2024, a Polícia Militar da Bahia (PM-BA) matou mais pessoas do que todas as polícias dos Estados Unidos somadas, mesmo com o estado tendo cerca de 5% da população americana.
A análise critica a atuação da PM sob gestões do Partido dos Trabalhadores (PT), no poder na Bahia desde 2007. Para Bouchard, programas implementados ao longo dos governos petistas reforçaram a militarização da segurança pública e incentivaram resultados baseados em metas de redução de violência que, na prática, teriam aumentado a letalidade das operações.
Entre as medidas destacadas está o Prêmio por Desempenho Policial (PDP), que remunera unidades com base em indicadores como a redução de crimes violentos. De acordo com a análise, isso se traduz, na prática, em perseguição de metas a “qualquer custo”, onde a letalidade passa a ser entendida como resultado positivo.
Um levantamento com base em uma amostra aleatória de 150 casos de letalidade policial registrados entre 2009 e 2023, que resultaram em 246 mortes, revelou que a Rondesp respondeu por 47% dos casos. Em seguida aparecem a Cipe, com 28, e o Bope, com 12. As três unidades somam mais de 80% das mortes analisadas.
Ainda segundo os dados apresentados, a letalidade policial na Bahia triplicou entre 2014 e 2023, passando de 5% para 25% das mortes violentas registradas. Isso significa que uma em cada quatro mortes violentas no estado tem como causa uma ação policial – número que se refere apenas aos casos registrados oficialmente.
Bouchard argumenta que o cenário é resultado da fusão entre políticas de combate às drogas, militarização da segurança pública e incentivos políticos que, segundo ele, legitimam a violência estatal. Para o pesquisador, essa lógica tem sido adotada tanto por governos de direita quanto de esquerda na América Latina.
“A Bahia é um triste exemplo do que acontece quando a guerra às drogas se funde com o policiamento militarizado e os incentivos políticos à violência”, afirma o jornalista. Ele alerta ainda para o risco político que esse cenário representa para os partidos de esquerda. “A esquerda precisa defender princípios de esquerda; caso contrário, abrirá caminho para que uma direita ainda mais militarista eleve o tom e possivelmente vença na Bahia em 2026 pela primeira vez em mais de duas décadas”, conclui.
Jornal da Chapada















































