No Ponto de Entrevista desta semana conversamos com o jovem Lucas Guimarães, administrador e Gerente de Materiais e Patrimônio da Prefeitura Municipal de Itaberaba – gestão do prefeito João Almeida Mascarenhas Filho (PSD). Segundo Lucas, de uma hora para outra, viu seu nome ser envolvido em crimes contra o Patrimônio Público, foi exonerado, não recebeu pelos dias trabalhados e ainda é parte em Inquérito Policial, sendo acusado pelo atual secretário de Administração Leandro Vieira Santos (veja aqui Boletins de Ocorrência) por crime de apropriação indébita de sucatas. Lucas relata constrangimentos, ameaças, afirmando que há “uma máfia ligada a máquinas e equipamentos de automóveis dentro da prefeitura”.
Jornal da Chapada – Lucas esclareça para os nossos leitores de que você está sendo acusado e porquê?
Lucas Guimarães – Lucas Guimarães – É de conhecimento de todos que a prefeitura municipal de Itaberaba, nesta gestão do prefeito João Filho, realizou um Leilão de Carros e Sucatas, pertencentes ao município. Eu era presidente do Leilão. O prefeito me deu pressão para que esse Leilão acontecesse o mais rápido possível, depois de uma deterioração dos automóveis para possíveis denúncias contra o ex-prefeito Ricardo Mascarenhas (PP).
Entre os itens leiloados, havia carros faltando pneus e peças, multas altíssimas, carros sem motor, caixa de marcha, painel eletrônico, e que essas informações fossem ocultadas para que não depreciassem o valor, que foi de quase 2 milhões de reais, com aproveitamento de 400% do valor inicial. Depois de lances pagos me mandaram apenas “entregar os veículos”.
Eu não fiz isso, porque não era compatível. Não existia lisura no processo, os arrematantes começaram a me encurralar. Muita gente envolvida, carros em nome de terceiros, ordem para diminuir valores de lotes para beneficiar aliados, etc. Diante das minhas recusas começaram os boatos e me colocaram como responsável por tudo que eu nunca tinha tido conhecimento.
E, de uma hora para outra fui acusado de vender ilegalmente, um lote de sete veículos, e implementos agrícolas como uma roçadeira e uma forrageira fora do leilão. O que não aconteceu. Eu nunca fiz e nem faria.
J.C. – Lucas, você afirma que foi exonerado antes da conclusão do inquérito. O que aconteceu exatamente?
Lucas – Fui exonerado sem o término do inquérito administrativo. Não apuraram nada, não provaram minha participação no esquema, ou seja, me julgaram e condenaram. Nem os dias trabalhados me pagaram. Deram ordens para colegas de trabalho não terem contato comigo para não “destruir provas”.
J.C. Você também alega que sofreu pressões internas e tentativas de intimidação. Pode explicar?
Lucas – Muitas! Imagina você, eu não fui conduzido pela polícia porque Deus protege os inocentes e justos, já que no dia que a polícia cercou a minha casa eu estava em uma consulta odontológica, mas foi um constrangimento grande para mim e para minha família, principalmente para meus pais e minha avó já idosa e com vários problemas sérios de saúde, moramos na mesma casa.
Além do mais, pessoas ligadas ao prefeito e muito próximas à primeira-dama tentaram me intimidar. Mandaram mensagens em tom de ameaça, até com a data de nascimento e falecimento de Marielle Franco, perguntando o que eu tinha dito em depoimentos. Eu respondi que aquela conversa já era uma tentativa de me calar. Recebi recados para ficar calado, inclusive de pessoas ligadas ao governo e da gestão. (veja alguns dos print durante entrevista).
Dentro do gabinete do prefeito, pessoas armadas me encurralaram. Pior foi a secretária de Governo, Marigilza Mascarenhas, pedir para eu confessar algo que eu não fiz. Ela mesma, antes teria mandado eu vender sucatas fora do leilão. Isso aconteceu antes do São João, segundo ela, para “limpar o pátio do gabinete”, mas, eu não fiz. Os ferros foram retirados de lá (gabinete), depois fiquei sabendo que estavam todos no Horto Florestal.
Sem falar em vários homens tentando me intimidar, ligando para várias pessoas da cidade, comerciantes, policiais, guardas e outros, e diziam que seria melhor eu assumir para “não piorar as coisas”. Eu me neguei, e desde então passei a ser tratado como inimigo. Preferi, naquela oportunidade, que de fato o caso fosse investigado por um delegado.
Cercaram minha casa e de colegas no dia do meu aniversário. Recebo ameaças constantes. Pessoas próximas ao governo me pedem para não citar nomes, para não “mexer com gente ruim”.
Como já mencionei, me compararam até a Marielle Franco. Prevendo minha eventual morte caso eu conte alguma coisa que sei. É uma situação absurda.

J.C. – Você diz saber de irregularidades envolvendo máquinas e obras públicas. Do que se trata?
Lucas – Eu vi máquinas da prefeitura, inclusive do PAC, trabalhando em obras particulares, como piscinas e terraplanagens. Uma vez, o vice-prefeito [Ramon, PT] chegou a ligar para familiares pedindo fotos, para armar provas contra inimigos dentro do governo, mas familiares se recusaram a entregar. Os donos alegavam ter autorização do próprio prefeito João Filho.
J.C. – Apuramos que você já foi ouvido no dia 25 de agosto, por uma delegada substituta e que agora o Inquérito Policial está em mãos do delegado titular. Como foi essa oitiva?
Lucas – Me ouviram e muitos ficaram surpresos com a minha exoneração antes da conclusão do Inquérito Administrativo instaurado pela prefeitura. Advogados disseram que não viram nem indícios de apropriação de carros. Fatos comprovavam apenas sucatas que não eram de propriedade do Município. Mesmo assim, o inquérito foi transferido. Não há provas de que eu tenha me apropriado de nada direta ou indiretamente e nem tenha vendido ou mandado vender nada público. Diante disso, quero apenas meu direito de defesa e que a verdade apareça.
J.C. – Você acha que está sofrendo retaliações por parte da administração do prefeito João Filho?
Lucas – Eu acredito que sim. Eu fiscalizava e denunciava irregularidades, e isso incomodava. Desde a campanha eleitoral, percebi comportamentos errados. Nunca fiz nada errado em minha vida e hoje me sinto vítima de uma armação política.
J.C. – Você já procurou os órgãos de defesa do cidadão, como o Poder Legislativo e o Ministério Público?.
Lucas – Fui citado e depois procurado pelo vereador Paraná, que também é advogado e se prontificou para me acompanhar na primeira oitiva na delegacia, junto com outra advogada. Eu queria ir sozinho, pois quem não deve não teme, mas me alertaram da armação e convenceram que eu deveria ir acompanhado. Quanto ao Ministério Público, estou indo esta semana pedir para acompanhar, tanto o Inquérito Administrativo, quanto o Policial. E pretendo solicitar medida protetiva.
J.C. – Você mencionou compras e gastos suspeitos. O que pode detalhar sobre isso?
Lucas –Por exemplo, houve compras sem processo administrativo sem nota fiscal adequada. Tenho como provar, uma aquisição de mais de R$ 20 mil em equipamentos para uma determinada secretaria e outras tantas permutas com bens permanentes.
Faltava câmeras de segurança nos principais órgãos; CIA não tem nenhuma, eu cobrei várias vezes que fossem instaladas. No Gabinete do Prefeito, foram desligadas durante o Leilão. Ligaram depois de um furto noturno do celular da ouvidoria.
Olha, as mazelas são muitas. Não cumpriam prazos.
Apagaram dados de computadores, o que inviabilizou ainda mais o meu trabalho. Tenho áudios e mensagens que provam ordens superiores mandando não registrar ou não tombar itens do patrimônio. Além de graves acusações de que o prefeito recebia propina de empresa de serviço de patrimônio, com contrato a rescindir após ineficiência nos trabalhos de levantamento e auditoria, muitas outras coisas.
J.C. – O que você espera daqui pra frente?
Lucas – Que o Ministério Público acompanhe o caso. Quero me defender! Tenho provas, áudios e documentos que mostram o que realmente aconteceu. Já fiz ata notarial de conversas do WhatsApp, estão todas registradas em cartório. Estou à disposição para esclarecimentos.
Jornal da Chapada











































