Moradores do Vale do Capão, na Chapada Diamantina, relatam que o custo da alimentação básica se tornou insustentável nos últimos meses. Segundo eles, a alta expressiva nos preços coincide com o grande fluxo de turistas que passou a chegar ao vilarejo após a requalificação da BA-849, estrada que liga Palmeiras ao distrito. Desde que o trecho de 19 quilômetros ganhou asfalto e sinalização, em maio deste ano, a vila viu crescer o número de visitantes e, junto com eles, os valores cobrados em itens essenciais como frutas, verduras e proteínas.
A pesquisadora e multiartista Alice Cunha, moradora há 12 anos, afirma que o impacto no bolso tem sido imediato e que manter a rotina passou a exigir esforços quase incompatíveis com a realidade local. “Para eu que vim de fora também já não é uma coisa mais tão simples fazer essa manutenção da sobrevivência no Capão. Eu saio bastante para trabalhar, mas agora cada vez mais me sentindo expulsa do lugar”, diz. Ela aponta que até produtos produzidos na própria região tiveram aumentos expressivos: a penca de banana que custava R$ 4 agora passa dos R$ 10, e o pacote de cacau em pó subiu de R$ 26 para R$ 39 em menos de três meses.
O cenógrafo Adson Lima Leite, que vive no Capão há mais de três décadas entre idas e vindas, confirma a dificuldade crescente para manter uma alimentação básica. Segundo ele, comer fora também se tornou um desafio. “Você não compra o PF por no mínimo R$ 30. Com raríssimas exceções”, afirma. Para driblar os preços mais altos dos dez mercados e minimercados da vila, ele opta por fazer compras maiores em Seabra, a 50 quilômetros dali. Ainda assim, o peso no orçamento é inevitável. “Antes, no geral, você ia para o mercado, gastava R$150, R$200, agora você gasta R$300, R$400, e compras bestas do dia a dia, que não compensa você viajar para a Seabra”, explica.

Moradores apontam que a chegada de turistas estrangeiros intensificou o aumento. Para Adson, a diferença cambial contribui diretamente para a disparada nos preços. “A galera chega com o euro, seis vezes mais forte do que a nossa moeda. E eles estão acostumados ao preço de lá, então o custo aumenta muito”, comenta. O resultado tem sido a perda gradual do poder de compra dos moradores mais antigos, que afirmam não conseguir acompanhar a inflação local acelerada pelo turismo.
O assistente de desenvolvimento infanto-juvenil Jefferson Santos, que vive no Capão há cinco anos, também relata que sobreviver com um salário mínimo na vila turística se tornou praticamente inviável. “Acabo tendo que recorrer ao CRAS e às vezes a cestas básicas”, conta. Ele diz que, depois de pagar aluguel e internet, sobra pouco para alimentação. “Eu não consigo comprar proteína o mês todo. O quilo de peito de frango aqui é R$ 32, e carne mesmo é uma coisa que não é tão barata aqui. Pra você ter uma ideia, nem reparo esses preços, porque eu não consumo, não sobra meu dinheiro pra fazer essas compras”, desabafa.
As preocupações sobre os efeitos da requalificação da estrada não são novas. Em junho, a moradora Ludmila Cunha já alertava que o distrito não suportaria o aumento repentino de visitantes. “Não sou contra a estrada, mas acredito que o Vale do Capão não comportará o fluxo do turismo e dos novos moradores que a proposta da estrada traz. O centro, a vila em si, é um local pequeno que não comporta esse fluxo, e as ruas internas comportam menos ainda”, diz ao Correio na época.
Atualmente, o temor se confirma nos gastos exorbitantes com a alimentação básica, que comprometem a qualidade de vida e pressionam moradores que, ao longo dos anos, ajudaram a construir a identidade do Vale do Capão. Jornal da Chapada com informações do portal Correio.














































