Uma nova edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher confirma um diagnóstico contundente: o Brasil segue sendo um país “muito machista” e as mulheres não se sentem respeitadas nem na rua, nem no trabalho e nem mesmo dentro de suas próprias casas. Os dados fazem parte da 11ª edição do levantamento realizado pelo DataSenado e pela Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), do Senado Federal, e revelam com clareza a dimensão cotidiana da desigualdade de gênero no país.
O estudo, um dos maiores sobre violência contra a mulher no Brasil, ouviu 21.641 mulheres de todas as regiões e faixas sociais. O resultado reafirma uma percepção quase unânime: 94% das entrevistadas afirmam que o Brasil é um país machista — mesmo índice registrado em 2023. A diferença está na intensidade: o grupo que considera o país “muito machista” subiu de 62% para 70% em apenas dois anos, o equivalente a 8 milhões de mulheres a mais com uma visão ainda mais crítica sobre a desigualdade de gênero.
Desrespeito generalizado atinge rua, trabalho e família
A pesquisa revela que o desrespeito às mulheres atravessa todos os espaços da vida. Para 49% das entrevistadas, as ruas são o ambiente onde a falta de respeito é mais evidente. Apesar de uma leve queda de três pontos em relação a 2023, quase metade das mulheres ainda considera o espaço público como o local onde se sentem mais vulneráveis.
O ambiente de trabalho aparece em segundo lugar: 24% das mulheres afirmam que não são tratadas com respeito no emprego. O percentual permanece estável nos últimos anos, indicando que as estruturas de discriminação permanecem firmes, especialmente em um contexto de desigualdade salarial, assédio e acesso limitado a cargos de liderança.
O dado que mais preocupa, porém, está dentro de casa. A percepção de falta de respeito no ambiente familiar chegou a 21%, um aumento de quatro pontos percentuais. Isso representa cerca de 3,3 milhões de mulheres que passaram a enxergar o próprio lar como um dos espaços mais hostis — uma tendência que acende alerta em especialistas e autoridades, especialmente diante dos índices de violência doméstica no país.
Violência de gênero é percebida como crescente
A sensação de que a violência contra a mulher está aumentando permanece alta e praticamente inalterada ao longo dos últimos anos. Desde 2017, cerca de oito em cada dez mulheres percebem crescimento nas agressões domésticas.
Em 2025, 79% das entrevistadas afirmaram acreditar que a violência aumentou — um dado que reforça a permanência estrutural desse problema no país, mesmo após avanços legislativos e campanhas de conscientização.
Quando questionadas sobre o comportamento das vítimas, o cenário é desolador:
• Apenas 11% das mulheres acreditam que vítimas denunciam “sempre” ou “na maioria das vezes”;
• 23% dizem que elas não denunciam.
Especialistas apontam que medo, dependência financeira, vergonha, falta de apoio institucional e descrença na Justiça continuam sendo barreiras que impedem a busca por ajuda.
Metodologia
A pesquisa teve como público-alvo mulheres com 16 anos ou mais, residentes no Brasil. O modelo probabilístico adotado pelo DataSenado permite calcular uma margem de erro estatística para cada resultado, com nível de confiança de 95%.
Com mais de 21 mil entrevistas, o estudo se consolida como uma das mais amplas e relevantes fontes de dados sobre violência contra a mulher no país.
Jornal da Chapada















































