Uma foto de Marina Silva sorrindo ao lado do caixão de Eduardo Campos provocou uma onda de protestos e indignação. Ela está apoiando o queixo sobre uma das mãos, olhando para um dos filhos de Campos com uma certa cumplicidade. Marina tem vários problemas. A arrogância, o senso de predestinação, a falta de clareza etc. Naquela noite, se a viúva de Campos, Renata, transmitia força e resignação, Marina parecia querer conforto. Mas daí a enxergar falta de decoro, maldade e oportunismo naquele gesto vai um mundo. O Brasil ganhou milhares de fiscais morais de velório, que determinam o que pode e o que não se pode fazer.
Se ela estivesse chorando copiosamente, seria acusada de falsa. Se se atirasse ao chão, rasgando o vestido de crente, descabelando em achaques o próprio coque, seria uma mentirosa. O que aconteceu ali, de fato? Na fotografia, há um sujeito alto, de óculos, atrás de Marina. Seu nome é Saulo Souza e ele é vereador em Poá, interior do estado de São Paulo.
Souza explicou em sua conta no Facebook:
“Num certo momento da madrugada, eu perguntei para Dona Renata, na presença de Marina, no que consistia a força admirável dos meninos e dela, principalmente, demonstrada diante de tamanho sofrimento e de tamanha dor. Ela calmamente tocou o porta-retrato do Eduardo que estava sob o caixão e contou do quanto achava lindo o sorriso dele, do quanto ele inspirava a família a sorrir em todos os momentos da vida mesmo quando a dor fosse uma tortura.
Então, disse que estava orgulhosa dele porque conseguiu deixar uma mensagem para o Brasil e realizada porque ele deixou um legado inspirador. Por fim, ela relembrou, como bom nordestino, do quanto ele gostava de contar ‘causos’ e alegrar a vida de todos por onde passava. Então, sorrimos. Nós cinco.”
Todo enterro tem um tio santarrão apontando o dedo para quem não se comporta conforme um manual hipócrita. A demonização do sorriso de Marina é sintoma da campanha, mas não vai ajudar o debate.