Mais uma vez, o Irã e seis potências mundiais – os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a Alemanha, a Rússia e a China – não conseguiram chegar a um acordo sobre o programa nuclear iraniano. Depois de uma semana de encontros em Viena, na Áustria, com a participação da ex-chefe da Política Externa da União Europeia, Catherine Ashton, os representantes dos sete países decidiram pelo adiamento, para 30 de junho, da data final para o acordo.
Segundo o secretário de Assuntos Exteriores do Reino Unido, Philip Hammond, houve “progresso significativo”, mas não foi possível costurar um acordo amplo, no prazo esperado. “Acho que está claro que precisamos aproveitar a ênfase que foi dada ao assunto e seguir avançando. Não podemos parar agora. Todas as partes concordaram que as negociações devem seguir. Novos encontros acontecerão em dezembro e a meta clara é alcançar o formato do acordo dentro de três meses”, observou Hammond.
Com a decisão, o acordo temporário, firmado em novembro do ano passado, que suspendeu parte das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e a União Europeia ao Irã, continua valendo até 30 de junho. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, lamentou o adiamento e disse que “não foi possível chegar tão longe quanto era esperado, apesar das ótimas condições e das conversas construtivas que foram realizadas”. “Fizemos algum progresso, novas ideias foram colocadas na mesa que podem servir como ponte para eliminar algumas das diferenças”, ressaltou.
As negociações buscam reconfigurar o programa nuclear iraniano e garantir que o país não seja capaz de enriquecer urânio em quantidade suficiente para construir uma bomba atômica em curto prazo. O governo do Irã nega objetivos militares e enfatiza que o enriquecimento de urânio não tem outros fins a não ser a produção de energia nuclear para uso pacífico. A capacidade de enriquecimento de urânio que será autorizada ao Irã é o primeiro ponto de discórdia. O país conta com cerca de 19 mil centrífugas, 10 mil em funcionamento. Os Estados Unidos, num primeiro momento, propôs a redução para 4.500 centrífugas, número considerado abusivo pelo governo iraniano.
Outra questão polêmica é o prazo em que as sanções impostas ao país árabe, nos últimos anos, poderão ser retiradas. O Irã quer o fim imediato do embargo da União Europeia ao petróleo produzido no país e das sanções impostas pelos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). Países como os Estados Unidos, por exemplo, oferecem a suspensão temporária, já que a eliminação definitiva das sanções depende da aprovação do Congresso. A contenda envolvendo o programa nuclear iraniano começou em 2002, quando as potências suspeitaram que o Irã enriquecia urânio em segredo. As atividades foram reveladas no saguão da usina de Natanz, na região central do Irã, e passaram a sofrer rígida inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea).
Em 2009, a crise se aprofundou, quando foi descoberta a construção de uma segunda planta de enriquecimento de urânio, dentro de uma montanha, nas proximidades da cidade de Qom. A descoberta desencadeou uma série de sanções contra o Irã, entre elas o banimento das importações do petróleo pela União Europeia, o que afetou fortemente a economia do país. Em novembro do ano passado, um acordo temporário foi assinado, congelando parte das atividades nucleares e das sanções impostas. O acordo expirava hoje, mas com o adiamento, continua a valer até 30 de junho do ano que vem.
A celebração de um acordo definitivo não só encerraria a polêmica em torno das atividades nucleares iranianas como também abriria caminho para possíveis cooperações do Irã com o Ocidente, nos conflitos contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Extraído da Agência Brasil.