Uma nova esperança para mulheres acima de 40 anos de idade, que não respondem bem ao tratamento de Fertilização in Vitro (FIV), já está sendo usada em Salvador com bons resultados e segurança. Trata-se de uma técnica desenvolvida na Universidade Shanghai, na China, que promove uma dupla estimulação ovariana em mulheres com dificuldade para produzir um número adequado de óvulos, pois já estão com sua função ovariana reduzida em decorrência da idade. “A partir do Protocolo de Shanghai, já sabemos que é possível iniciar uma segunda estimulação hormonal logo após a coleta dos óvulos resultantes do primeiro estimulo. Nota-se que essa medida amplia o número de óvulos colhidos quando se compara a estimulação convencional. É uma descoberta da ciência que representa um avanço considerável na reprodução assistida”, explica o médico Joaquim Lopes, ginecologista, especialista em Reprodução Humana e diretor do Cenafert (Centro de Medicina Reprodutiva).
“A técnica é uma alternativa importante para mulher com diminuição da função ovariana, que não abre mão de ter filhos com sua própria carga genética,” acrescenta o especialista. Ele lembra que nem todas as pacientes aceitam se submeter a uma Fertilização in Vitro com óvulos de doadoras. A nova abordagem em reprodução assistida é resultado de um estudo feito com 38 mulheres, publicado na Reproductive BioMedicine, e realizado por um grupo de pesquisadores chineses sob coordenação do professor Yanping Kuang, PHD pela Fudan University School of Medicine e, atualmente, diretor do Departamento de Reprodução Assistida do Ninth People’s Hospital da Escola de Medicina da Universidade de Shanghai Jiao Tong. Teve também a participação do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Kaplan Medical Center (Israel). Os resultados da dupla estimulação têm sido comprovados em outros estudos científicos, o que dá maior consistência a essa descoberta.
O Hormônio Folículo Estimulante (FSH) e o Hormônio Luteinizante (LH) são os responsáveis pela ovulação e, por consequência, pelo amadurecimento de folículos, os óvulos capazes de serem fertilizados. São hormônios produzidos naturalmente pela hipófise em condições fisiológicas normais. A estimulação ovariana é feita através desses dois hormônios com o objetivo de se obter maior número de óvulos do que o habitual, já que a mulher libera apenas um óvulo mensalmente. Esse segundo estimulo, geralmente, resulta numa coleta com maior número de óvulos. A dupla estimulação aumenta o número de óvulos coletados em média de 1,7 para 3,5, dobrando a produção ovariana e aumentando as chances de gravidez. O primeiro estimulo sensibiliza o ovário para ter uma resposta mais ampla.
A técnica também pode ser indicada à paciente que será submetida a um tratamento oncológico, pois permite a obtenção de maior número de óvulos para serem criopreservados em um curto espaço de tempo, o que se torna importante, especialmente para mulheres que não podem retardar o início do tratamento radio ou quimioterápico. “Após a dupla estimulação, os óvulos produzidos em maior quantidade são colhidos e congelados, possibilitando a preservação da fertilidade. Depois do tratamento do câncer, a paciente já recuperada e saudável poderá conceber filhos”, explica o especialista Joaquim Lopes.