Há mais de 20 dias, incêndios florestais atingem o Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) e seu entorno. Segundo a equipe técnica da Brigada de Resgate Ambiental de Lençóis (BRAL), mais de nove mil hectares já foram atingidos apenas dentro dos limites da unidade de conservação. Mesmo antes do fim desses eventos, já é possível observar alguns prejuízos graves ao meio ambiente e às vidas dos moradores das comunidades ao redor.
A preocupação é justificada pela importância da biodiversidade e dos recursos hídricos da região da Chapada Diamantina, não apenas em âmbito estadual, mas, também, nacional. Ela abarca as nascentes dos rios Paraguaçu, de Contas, Paramirim, Salitre e Jacaré e alguns tributários do Rio São Francisco, um dos mais importantes do país. O que significa nascentes que totalizam 80% de toda a água do Estado da Bahia. O abastecimento de Salvador depende dessas águas.
Além da perda da fauna e da flora, o fogo também atinge o solo, elemento que influencia diretamente a qualidade dos recursos hídricos. “Durante o combate, observamos que muitas turfas estão sendo queimadas, um tipo de solo orgânico formado em valas. Elas funcionam como esponjas, liberando a água gradualmente, impedindo que os rios fiquem secos no período de estiagem e que transbordem durante as chuvas. Porém, estamos perdendo isso”, afirma o engenheiro florestal e representante da BRAL, Diego Serrano. “Por isso, mesmo sem cálculos precisos, já podemos dizer que os incêndios irão impactar na vazão dos rios”, ressalta.
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“Centenas de nascentes de água potável também foram queimadas e muita mata ciliar se perdeu. A quantidade de água que evaporou durante o incêndio é incalculável”, acrescenta o engenheiro ambiental e membro da equipe técnica da BRAL, Rodrigo Valle. As áreas com vegetação têm capacidade muito superior na produção de água, ou seja, na captação, no armazenamento e na distribuição, enquanto nas áreas queimadas, a água escoa rapidamente. Alguns dias após a chuva, os rios e nascentes já estão secos, pois a bacia não tem mais capacidade para retenção.
Somado a isso, os solos queimados ficam desprotegidos e são arrastados pela enxurrada para os rios, assoreando-os, afetando, inclusive, a qualidade da água. “As primeiras chuvas irão levar as cinzas para a calha dos rios, e nelas estão contidos nutrientes, como fósforo e potássio, que contribuem para a proliferação de algas e bactérias, comprometendo o seu consumo”, destaca Serrano.
Confira imagens do combate no Vale da Serra do Mandassaia. Fotos de Açony Santos:
Prejuízos para a vegetação
Na queima do solo, também vão embora matéria orgânica e microrganismos, elementos essenciais para o desenvolvimento de novas plantas. “Em 24 horas de fogo, uma área com milhares de plantas, insetos e animais, transforma-se em um ambiente estéril, demorando dezenas de anos para se recuperar”, explica Valle.
O fogo chega a alcançar áreas florestais com mais de 50 anos de desenvolvimento e a vegetação que voltará a crescer é, normalmente, caracterizada por espécies oportunistas e exóticas, que irão competir com as nativas. Dessa forma, afirma Valle, “os efeitos negativos acabam por se estender, alterando toda dinâmica ecológica das zonas atingidas”.
A frequência, praticamente, anual de focos de incêndio, como vem ocorrendo no PNCD, não permite a recuperação da vegetação e que as árvores cheguem à fase adulta. “Raros são os indivíduos que conseguem passar do estágio de mudas. Um jatobá, por exemplo, com 15 anos possui condições de resistência ao fogo, mas um de três anos, certamente, não irá sobreviver”, informa Serrano.
Os impactos ambientais também atingem a fauna, uma situação chocante. “Ao caminhar em áreas recém-queimadas, encontramos cobras, macacos, pacas, tatus, veados e, até, filhotes de onça queimados. Para chegar aos focos de incêndio, os brigadistas relatam ser comum cruzar com diversos animais fugindo, desesperados, do fogo. Até um tamanduá correndo em chamas já foi visto”, lamenta Valle. As informações são da Ascom da BRAL.