Em depoimento de mais de cinco horas na última quinta-feira (7) à Polícia Federal (PF), em São Paulo, a jornalista Mirian Dutra Schimdt confirmou ter tido um filho com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e que os todos os recursos recebidos por ela do ex-presidente serviram para o custeio dos estudos do filho. Os detalhes sobre o depoimento dado ontem por Mirian só foram divulgados na sexta (8) à imprensa pelos advogados que defendem a jornalista, José Diogo Bastos Neto e Maíra Beauchamp Salomi. Segundo a nota dos advogados, Mirian contou à Polícia Federal que, do seu relacionamento com o ex-presidente, nasceu Tomas Dutra Schmidt, em 1991. No ano seguinte, por vontade própria, ela decidiu se mudar para a Europa, onde “reside até o momento, de forma ininterrupta”. Desde então, afirmam os advogados, o ex-presidente pagou integralmente “o custeio dos estudos do filho Tomas desde o ingresso na escola até os presentes dias”. Atualmente, Tomas faz mestrado em Ciências Econômicas.
Depoimento
A jornalista Mirian Dutra chegou à sede da Polícia Federal em São Paulo para depor ontem por volta das 13h40 e deixou o prédio às 19h45, sem falar com a imprensa. No final do depoimento, ela apenas disse aos jornalistas que estava cansada. Ela foi ouvida em um inquérito, aberto em fevereiro deste ano, que investiga possíveis irregularidades cometidas por Fernando Henrique ao enviar recursos para a jornalista no exterior. Mirian foi ouvida por declarações que fez a revistas brasileiras em que ela acusa o ex-presidente de ter enviado dinheiro para o exterior, de forma irregular, usando uma empresa chamada Brasif, para pagamento de despesas do filho.
Em entrevista à revista BrazilcomZ, Mirian confirmou que teve um relacionamento com Fernando Henrique Cardoso antes de ele se tornar presidente da República, durante parte dos anos 1980 e início da década de 1990, e afirmou que seu filho, Tomás Dutra Schmidt, hoje com 23 anos, é filho de FHC. Mirian disse ainda que o ex-presidente usou uma empresa para enviar dinheiro para o filho no exterior.
À Folha de São Paulo, a jornalista disse que a primeira transferência foi feita por meio de um contrato fictício de trabalho, no fim de 2002. O documento, obtido pelo jornal, mostra que a contratante é a Eurotrade, com sede nas Ilhas Cayman. A empresa era subsidiária do grupoBrasif que, na época, monopolizava a exploração de free shops, serviço administrado pelo governo federal. Apesar de ter dado dinheiro a Tomás, Mirian disse que FHC nunca assumiu a paternidade do rapaz. Perguntada sobre o motivo de só ter trazido os fatos à tona agora, a jornalista disse que “está na hora de as pessoas começarem a saber a verdade”.
Na nota enviada pelos advogados hoje à imprensa que informa sobre o que Mirian disse à Polícia Federal, a Brasif não foi citada, ao contrário do que a jornalista disse anteriormente em entrevista às revistas. Procurada ontem pela Agência Brasil, a Brasif enviou uma nota em que diz que a Eurotrade, uma plataforma logística internacional das operações da Brasil Duty Free Shop, contratou, “em dezembro de 2002, a jornalista Mirian Dutra para realizar pesquisas sobre os preços em lojas e free shops na Europa” e que ela foi indicada para a função pelo jornalista Fernando Lemos, seu cunhado.
Na nota, a empresa diz que o “ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não teve qualquer participação na contratação, tampouco fez qualquer depósito na Eurotrade ou em outra empresa da Brasif”. A empresa também informou que a Eurotrade e a Brasil Duty Free foram vendidas em 2006. Por e-mail, o Instituto Fernando Henrique Cardoso informou à reportagem da Agência Brasilque “o presidente considera o assunto pessoal e não fará comentários”. As informações são da Agência Brasil.