Dizer que a Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA) vai reunir, no festival de reabertura, entre os dias 13 e 15, dos Novos Baianos a Baiana System, de Maria Bethânia a Kindembu, é pouco para ilustrar o potencial do novo equipamento, mesmo oferecendo para o público um mix de artistas consagrados da Música Popular Brasileira (MPB) e nomes que começam a se destacar no segmento.
“A Concha merece ser alvo não apenas de políticas culturais estaduais, mas nacionais. Tem a capacidade de ser plural, inclusiva e sempre visando a memória. O espaço foi um pivô da dinâmica desta identidade musical que o baiano, o nordestino e o brasileiro precisam fortalecer”, afirma Pablo Sotuyo, pesquisador de História da Música da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Para Sotuyo, a nova Concha é muito mais do que um espaço para a música. “Tem potencial para o teatro, dança e sobretudo para o público infantil, que tem sido esquecido. A Concha Acústica é ideal para o público infantil porque aproxima as crianças do palco, elas podem interagir livremente, sem o compromisso e o ritual da sala de concertos. Criança é espontânea, se ela tem espaço, manifesta tudo o que tem de bom”.
De acordo com pesquisador, a Concha é um aparato cultural muito importante, construído em um momento em que o Brasil estava, em 1958, renovando seus equipamentos culturais, apenas um ano depois do projeto da Concha Acústica de Londrina. “Não foi inaugurada em 1959 por causa do incêndio [do TCA], mas apenas em 1967, durante a ditadura militar, e foi um espaço muito dinâmico na representação simbólica musical do povo”.
Sotuyo cita nomes que fizeram história na música e que passaram pela Concha, como Luiz Gonzaga, João Gilberto, Roberto Carlos e Wanderléia, além de destacar eventos simbólicos, como o Projeto Pixinguinha. “Foi um projeto realmente amplo e plural, de altíssima qualidade. Temos shows de João Gilberto, Luiz Gonzaga, mas o Projeto Pixinguinha se destacou por ser de alcance nacional. A Concha organizou e agendou um leque de grandes nomes, na época novos artistas, que hoje são importantes”.
Além da música
Segundo o secretário da Cultura do Estado, Jorge Portugal, antes da reforma, a Concha era um grande espaço para espetáculos musicais. “Agora está preparada para diversas linguagens, circo, dança, tudo o que se imaginar nas linguagens artísticas cabe na Concha Acústica. Agora, a programação de reinauguração vai marcar a vida de quem for. Para o show dos Novos Baianos, por exemplo, os ingressos se esgotaram em duas horas. A programação já está preenchida até o final do ano e já temos mais de 40 pedidos de pauta, [mas] não vou adiantar para não quebrar o encanto”.
Portugal afirma que a Concha é um instrumento para fomentar a cultura e para cultuar artistas consagrados. “Nós estamos pensando em uma programação que possa estabelecer diálogo entre o emergente e o consagrado. Essa programação de inauguração já contempla um pouco isso, pois tem o artista memorável e novos artistas, que estão ali praticamente estreando nesse cenário. Temos dos Novos Baianos a Baiana System, por exemplo”, acrescenta.