Moradores do Espírito Santo relatam que estão com seu direito de ir e vir cerceado há seis dias, desde que começou a paralisação dos policiais militares por reajuste salarial. A rotina dos capixabas mudou de forma drástica, já que muitos não conseguem sair para trabalhar nem estudar pela falta de segurança nas ruas. Escolas, unidades de saúde, boa parte do comércio, bancos, repartições públicas estão fechados desde segunda-feira (6). Os supermercados estão lotados e com longas filas. Os ônibus, que tinham voltado a circular pela manhã, retornaram na última quinta (9) para as garagens, após a morte de um sindicalista rodoviário.
O bancário Jonatan Freire Cardoso Oliveira, de 31 anos, é morador do município da Serra e trabalha na capital capixaba. Casado e com um filho de 3 anos, Oliveira disse que está se sentindo em “prisão domiciliar” desde que a paralisação começou. Neste período, só foi trabalhar na terça-feira (7), porque os militares do Exército começaram a patrulhar as ruas, mas, segundo ele, a sensação de insegurança permanece muito grande. “Eu e minha esposa estamos em casa, com muito receio de sair por causa dos relatos de assaltos e tiroteios. Quando saímos, é com todo cuidado”, disse. “Não temos o direito de ir e vir e sai da rotina totalmente.”
Oliveira disse ainda que precisou ir ao supermercado e ficou perplexo com o número de pessoas que compravam grande quantidade de mantimentos para estocar. “Estava muito cheio, uma coisa fora do normal”. O bancário disse acreditar que a reivindicação dos policiais militares é justa, mas, para ele, o movimento de paralisação poderia ter sido progressivo. Na sua opinião, a categoria tem enfrentado muitos anos de desvalorização salarial e más condições de trabalho. “A maior parte da culpa é do governo, por não ter dado pelo menos o reajuste da inflação. O salário está muito defasado. O governo deveria tentar negociar, precisa ter uma contraproposta”, acrescentou Oliveira.
A dona de casa Selma Chagas Garcia, de 54 anos, moradora de Guarapari, no sul do estado, disse que apenas ontem à noite chegaram os primeiros militares do Exército à cidade. “A situação está horrível. Tudo fechado. Não tem ônibus. Está tudo parado”. Sua filha de 11 anos está sem ir à escola desde segunda-feira. Segundo ela, foram registrados muitos assaltos na cidade. “Moro aqui há 17 anos. Nunca passei por isso antes. Roubaram muitas lojas aqui”. Selma acredita que já havendo um “abuso” nessa paralisação. “Ouvi falar que estão pedindo 100% de aumento de salário. Não vão conseguir isso nunca. Está difícil terminar [a greve]”, completou.
A publicitária Amanda Fonseca Rodrigues, de 30 anos, diz que a situação no estado a fez refletir sobre a importância do direito de ir e vir, que está completamente prejudicado para a população capixaba. Moradora de Cariacica, ela está sem ir ao trabalho, em Vitória, desde o início da semana. Amanda relatou que recebe muitas notícias e vídeos pelas redes sociais, o que acaba aumentando a sensação de insegurança. Apesar de ter parentes que são militares e entender o pleito da categoria, para ela a situação tornou-se insustentável para a população. Da Agência Brasil.