A Ceasa do município de Utinga, na Chapada Diamantina, foi transformada em um grande fórum com a realização da audiência pública que discutiu a crise hídrica ocasionada pela falta de fluxo no leito do Rio Utinga neste período de estiagem. O objetivo principal do debate, que aconteceu no sábado (28), foi buscar meios viáveis para que o governo estadual, por meio dos órgãos técnicos, adote medidas que preservem o rio, sem causar um colapso econômico no município, lacrando as bombas de irrigação dos pequenos e grandes produtores rurais de Utinga e Wagner (veja aqui).
A mesa que conduziu a discussão foi presidida pelo prefeito de Utinga, Joyuson Vieira (PSL), apoiado pelo prefeito de Wagner, Elter Bastos (PSL), pelo presidente do Poder Legislativo Municipal Antunes Santana (Bebeu – PSDB) acompanhado dos vereadores das bancadas de situação e oposição como Antônio Muniz, que é também um grande defensor do Rio Utinga. “É possível sim, se administrar com competência essa crise hídrica para que nenhum ser humano nem o animal, fique sem água, e concomitantemente a isso, manter a produção de alimentos por meio da irrigação”, declara o prefeito Joyuson Vieira.
Para o gestor de Utinga, existem várias alternativas e destacou a perenização do rio, construção de barragem, além da conscientização da população para o uso de tecnologias que economizem a água, especialmente nesse momento crítico, com o rodízio de dias para irrigação. “Por exemplo, irriga um dia, passa um sem irrigar, se a seca apertar, passa dois, ou três dias, sem irrigar”.
Para Vieira, o governo estadual precisa tomar consciência disso e ajudar o município na fiscalização desses acordos. “É possível sim, pois a diferença entre o remédio e o veneno é a dose. E a dose que o Inema deu essa semana aqui foi dose de veneno, ou seja, mata-se todo mundo para a água chegar onde eventualmente não estaria chegando depois, quando chover, está todo mundo morto. Nós precisamos tomar remédios e não veneno”, disse o gestor.
Ele ainda criticou o fato do Inema, com ajuda da Cipe-Chapada, ter lacrado (veja aqui) as bombas de irrigantes, principalmente daqueles cujo a produção é de subsistência, fato que causaria, um colapso econômico em Utinga – onde a agricultura é responsável por 90% da economia.
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O debate sobre a situação do Rio Utinga começou as 11h do sábado e contou com a participação de produtores rurais, comerciantes, representantes de entidades civis, movimentos sociais e ativistas ecológicos e sociais, como o índio Juvenal Payayá, Judson Rios, atual presidente do Comitê de Manutenção e Preservação do Rio Utinga, além de representante da ONG SOS Nascente, associação de irrigantes, e autoridades como Marivaldo Dias, da Secretaria Estadual de Relações Institucional (Serin) e o representante do governador Rui Costa, o deputado estadual Marcelo Nilo (PSL), que esteve acompanhado do diretor da Embasa, Marcelo Veiga.
“Ontem [sexta-feira], o prefeito Joyuson Vieira e eu estivemos em audiência com o governador Rui Costa, mostrando a ele a importância de proteger esses pequenos irrigantes aqui de Utinga. E o governador, muito sensível ao momento, pediu que alguns técnicos viessem ao município examinar caso a caso. Mas nós não abrimos mão da proteção daqueles que vivem da irrigação. O rio nasce em Utinga, mas isso não quer dizer que vamos deixar os irmãos dos outros municípios passarem sede. Pelo contrário, temos que negociar para que ninguém saia prejudicado”, aponta Nilo.
O parlamentar estadual ainda disse: “É obvio que nessa crise todos terão sua cota de sacrifício, para isso, somos também a favor do rodízio como medida emergencial para que a água chegue também aos outros municípios”. Para quem não sabe, o Rio Utinga é um dos maiores produtores de água da Chapada Diamantina, nasce no município e é usado para o consumo humano, animal e para irrigar a agricultura, tanto de subsistência, quanto familiar de Utinga, Lajedinho, Lençóis, Andaraí e Wagner, onde a população ribeirinha fica a 10 metros da calha do rio.
Jornal da Chapada
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