Segundo um balanço divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) a Bahia está em triste terceiro lugar quando se fala em assassinatos por conflitos de terra no país. Em 2017 o número de mortes por este motivo foi 150% maior do que o registrado em 2016. Os dados foram divulgados na última segunda-feira (16). No ano passado, o caso mais sangrento ocorreu na comunidade quilombola de Iúna, em Lençóis, na Chapada Diamantina, onde foram mortas sete pessoas. Segundo Ruben Siqueira, da coordenação da executiva nacional da CPT e assessor da instituição na Bahia, até agora a investigação não prosperou.
“O caso está parado. Não teve oitiva, ninguém foi preso mesmo. Até um inquérito, que é a peça chave do processo, é muito falho, inconcluso, não há busca de provas”, disse Siqueira. Além das baixas em Lençóis, outros líderes quilombolas perderam a vida, como foi o caso de José Raimundo Mota de Souza Júnior, o Júnior, em Antônio Gonçalves, no Piemonte Norte do Itapicuru, assassinado com dez tiros. Para Ruben, a onda de assassinatos em área quilombolas traz um contexto novo às disputas no campo.
Segundo ele, as novas regulamentações de áreas para comunidades quilombolas ocorre ao mesmo tempo em que o agronegócio se expande. O caso de Lençóis, onde há terra fértil dentro da bacia do rio Paraguaçu, teria feito aumentar a cobiça na região. “Houve um avanço na identificação das terras, mas isso também fez com que os grandes grupos econômicos passassem a investir na região”, explicou Siqueira.
“Um dos dois bancos norte-americanos que levaram à crise imobiliária em 2008, que a gente sofre as consequências até hoje, o JP Morgan, é sócio de um projeto de produção de leite em Jaborandi, no oeste baiano. Então, esses grupos procuram ali uma referência de terra, um bem real, que justifique segurança para seus investidores. Esse contexto explica o crescimento gradativo da violência no campo”, completou. Outro que foi executado foi Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, morto também com dez tiros.
O ex-dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e líder do movimento na região da Chapada, Márcio Matos, foi assassinado no município de Iramaia em janeiro deste ano. Marcinho, como era conhecido, era ligado à tendência interna do PT, Esquerda Popular Socialista (EPS), e lutava por igualdade social e reforma agrária na Bahia, atualmente ocupava o cargo de secretário de Administração da prefeitura de Itaetê. O assassinato aconteceu na casa do líder político, em Iramaia.
Brasil
No âmbito nacional, o estado que mais perdas teve com conflitos no campo foi o Pará, com 21 mortes. Desse total, 12 morreram na chacina de Pau D’Arco, que repercutiu para além das fronteiras do país. Depois do Pará, Rondônia, com 17 óbitos, aparece na segunda posição em crimes de terra. Nesta terça (17) é lembrado o Dia Internacional de Luta Camponesa. A data é simbólica. Em 1996 ocorria o famigerado massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, onde 21 trabalhadores sem-terra morreram sob tiros da Polícia Militar paraense. À época, as vítimas protestavam por reforma agrária.
SSP-BA
A Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-BA) contestou a declaração do coordenador da executiva nacional da CPT de que as investigações sobre os crimes contra quilombolas estariam “paradas”. Em nota, a SSP declarou que os principais casos citados por Siqueira já “foram elucidados pela polícia”, com três pessoas já presas. Ainda segundo a pasta da segurança pública, no caso de Iúna, em Lençóis, a disputa não estaria associada a conflito de terras, mas ao tráfico de drogas na região. A SSP-BA também afirmou que no caso de Binho do Quilombo um dos envolvidos foi preso em 20 de dezembro do ano passado. Com informações do Bahia Notícias.