O governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse na última quarta-feira (19), que o corpo mostrado em um vídeo postado pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL) como sendo do miliciano Adriano Magalhães não é do ex-capitão do Bope, morto durante operação policial, este ano, em um sítio na zona rural da cidade de Esplanada, na Bahia. Na postagem, junto ao vídeo, o senador do Rio de Janeiro escreveu: “Perícia da Bahia (do governo PT) diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros à queima-roupa (um na garganta de baixo para cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões)”.
Em entrevista para jornalistas na quarta-feira, na saída de uma reunião no Senado, em Brasília, Rui Costa questionou a veracidade do vídeo. “Como é que vou periciar um vídeo que circula na internet? Posso lhe garantir que aquilo não é nem do IML da Bahia, nem do IML do Rio. Imagens hoje, vocês que são de comunicação, editam do jeito que quiserem. Mas não são imagens dele [Adriano]. As imagens do corpo tem uma saída de bala nas costas e as costas [mostradas no vídeo] estão lisas”, disse. O governador da Bahia ainda disse que as autoridades estão investigando o caso.
Perícia da Bahia (governo PT), diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros a queima-roupa (um na garganta de baixo p/cima e outro no tórax, que perfurou coração e pulmões. pic.twitter.com/0oqlojvYwX
— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) February 18, 2020
“Agora, está entregue as autoridades. Eu, como democrata que sou, acredito nas instituições. Acredito no Ministério da Bahia, acredito no Ministério Público do Rio. Eles serão capazes, espero, de reafirmar e deixar claro e transparente para a sociedade todas as situações”, declarou o governador. Quando Flávio Bolsonaro fez a postagem, o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, já havia dito que o vídeo “não é reconhecido como autêntico pela perícia baiana ou pela perícia do Rio de Janeiro”.
Disse ainda que “as imagens não foram feitas nas instalações oficiais do instituto médico legal. Então nós temos a clara convicção de que isso é para trazer algum tipo de dúvida, de questionamento, a um trabalho que ainda não foi concluído”. O perito médico legista e diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, Mário Câmara, disse “que não é possível analisar um vídeo que não foi autenticado pela perícia”. “Não sabemos se foi adulterado, onde foi feito, não sabemos se o corpo é realmente do senhor Adriano.”
Assista ao vídeo com as declarações do secretário e do diretor do IML
Pedido de exame
A Justiça da Bahia determinou na terça-feira (18) um novo exame no corpo do miliciano Adriano da Nóbrega. A decisão ocorreu depois um pedido feito pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA). Segundo o Órgão, o objetivo é esclarecer dados até o momento obscuros, entre eles, a trajetória dos tiros. No documento, a Justiça pede que o corpo do miliciano não seja cremado e, por isso, mantido em conservado em câmara de refrigeração no Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro, para a realização de perícia necroscópica complementar no cadáver.
Além disso, a Justiça requisita à Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia as gravações dos rádios transmissores utilizados pelos agentes policiais no dia da operação policial e exames papiloscópico nas munições não deflagradas da pistola Glock (9mm) supostamente encontrada com Adriano. O miliciano estava foragido havia mais de um ano. Adriano era suspeito de comandar um grupo criminoso que cometeu dezenas de homicídios, o Escritório do Crime. O ex-capitão foi expulso da PM por envolvimento com o jogo do bicho e já foi homenageado mais de uma vez pelo então deputado estadual Flávio Bolsonaro (sem partido), hoje senador.
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