De acordo com matéria publicada pelo jornal Correio, diferentes municípios da Bahia têm reduzido a quantidade de realização de testes de covid-19. E a terceira cidade que mais reduziu a quantidade de testes foi Andaraí, localizada na Chapada Diamantina, com uma queda de 75%. No entanto, Elisangela Pacheco, coordenadora da vigilância epidemiológica do município, sustenta que os números reais são diferentes do divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab).
“Só entre 20 e 30 de setembro foram 133 testes RT-PCR feitos em um inquérito epidemiológico aberto. Já em outubro foram apenas 14, até agora. Essa redução aconteceu, pois diminuiu a quantidade de pessoas com síndrome gripal na cidade. Esses dados estão no Sistema Gerenciador de Ambiente Laboratorial, onde é cadastrado as amostras enviadas ao estado. Não são coisas que saíram da nossa própria cabeça”, disse Pacheco.
Entre 1 e 16 de outubro, período que engloba as três primeiras semanas de campanha eleitoral, algumas cidades chegaram a reduzir 90% dos testes RT-PCR, em comparação ao mês de setembro. Em oito municípios, a queda foi superior a 50%. Em entrevista ao jornal Correio, o secretário estadual Fábio Vilas-Boas relatou que algumas cidades estão se recusando a aplicar testes com receio do efeito eleitoral negativo que isso poderia causar.
“As cidades não estão manifestando interesse. Por isso, a gente reduziu o volume de testes realizados no Lacen”, citou o titular da Sesab. Essa redução foi de 40%: antes eram feitos 5 mil testes por dia, que é a capacidade máxima. Hoje o número está por volta de 3 mil testes por dia. Para Matheus Todt, infectologista da S.O.S. Vida, uma das diretrizes que enfrenta a pandemia, a proposta continua sendo “testar, testar e testar”.
“Desde o início da pandemia a Organização Munidal da Saúde diz sobre a importância da testagem para conhecer os que estão infectados e isolá-los. No Brasil, nós nunca chegamos a testar muito e isso impactou na forma como lidamos com a pandemia. Até hoje a gente não sabe a dimensão do problema que enfrentamos, a não ser os casos de municípios onde houve testagem em massa”, disse. O médico também se mostrou assustado com o fato de que o Lacen está testando menos do que a sua capacidade devido à baixa demanda dos municípios.
Para ele, esse é o momento de as cidades aproveitarem a oferta para darem prioridade ao RT-PCR, feito pelo Lacen, em detrimento do teste rápido, que é menos confiável. “O teste rápido não orienta sobre o isolamento, pois quando ele positiva, já tem 10 dias de contaminação, ou seja, a pessoa já pode ter contaminado outras. Alguns sequer positivam nesse teste. Para controle populacional, é um tipo de teste ruim. Com certeza, as cidades precisam aproveitar. 5 mil por dia é um volume ainda pequeno, mas fazer menos que isso é pior ainda”, disse.
No combate à pandemia e na possibilidade de surgir uma segunda onda de contaminados no país, a forma de lidarmos melhor com isso é através da testagem. “Se eu testo o máximo que puder, consigo identificar os casos e isolá-los, evito que o vírus se espalhe. A alternativa de não testar é isolar todo mundo, o que não aconteceu no país. Ou testa, testa e testa, como a OMS diz, ou faz um isolamento severo. No Brasil, nós não fizemos nem um, nem outro”, explicou Todt.
Quanto às aglomerações políticas que se multiplicaram no interior baiano, Matheus chamou atenção dos governantes e participantes. “Como é que eu coloco um monte de gente que não convive diariamente para caminhar junto, sem máscara? Isso é o pior que poderia acontecer. Até os EUA, que está lidando mal com a pandemia, tem feito campanhas mais comedidas. Não tem como a gente pensar numa situação pior do que isso para a covid-19 se espalhar”, concluiu. Jornal da Chapada com informações do jornal Correio.