O baiano Itamar Vieira Junior conquista o prêmio Jabuti 2020 de melhor romance literário com ‘Torto Arado’ (Editora Todavia). Na obra, o autor apresenta narrativas de conflitos e resistências pela terra em uma comunidade de trabalhadores rurais na Chapada Diamantina, através da jornada de duas irmãs.
O enredo de ‘Torto Arado’, ambientado na região úmida da Chapada, traz o protagonismo de figuras femininas enfrentando uma sociedade que nunca deixou de ser escravocrata e patriarcal. O Jabuti, em sua 62ª edição, é o prêmio mais importante da literatura no Brasil e teve seus vencedores anunciados no último dia 26 de novembro.
‘Torto Arado’ já havia levado o prestigiado Prêmio Leya, de Portugal, em 2018, e é finalista do Prêmio Oceanos de Literatura em Língua Portuguesa, do Itaú Cultural. Em virtude da pandemia de covid-19, Itamar participa da 18ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em formato virtual, neste sábado (5). O autor compartilha a Mesa 7, Ancestralidades, com o escritor nigeriano Chigozie Obioma.
Além do espaço rural, os autores compartilham em seus temas a resistência das religiões de matrizes africanas e indígenas e de culturas ancestrais. O evento é gratuito e será transmitido até o domingo, dia 6 de dezembro, pelo canal do festival.
Nascido em Salvador, Vieira é geógrafo e funcionário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), trabalho que lhe rendeu a proximidade com realidades de populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas e de assentados, pelos sertões baiano e maranhense.
Ele mesmo descendente de negros e indígenas Tupinambás, herdou dos avós paternos, que viveram na zona rural no Recôncavo Baiano, histórias que o ajudam a construir suas narrativas. Depois de formar-se mestre em Geografia, o autor completou o doutorado em Estudos Étnicos e Africanos na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Sua tese, tecida sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste, e seu trabalho como funcionário público na área do desenvolvimento agrário, revelou a Itamar realidades de um país com uma grave questão fundiária, em que a escravidão ainda existe, ainda que com outros nomes, e que carrega um dos maiores índices de conflitos pela terra. Experiências que atravessam a escrita do brilhante autor que leva a Bahia para todos os lugares. Jornal da Chapada com informações do BdF Bahia.