Dez minutos para registrar oficialmente – e de maneira indelével – a existência da notícia falsa. Vinte minutos para “quebrá-la em partes”, ou seja, saber se há crime cibernético, robôs e/ou influenciadores envolvidos. Entender a narrativa conspiratória da vez e traçar um plano. Sessenta minutos para mitigar o caso, acionando não apenas um grupo de parceiros como também uma rede de comunicação direta, capaz de levar mensagens simples a mais de 20 milhões de eleitores.
Esse é o plano ’10-20-60′, o coração da estratégia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para enfrentar o tsunami desinformativo que as eleições de 2022 devem gerar. E a Corte já está a todo vapor para colocá-lo de pé. Thiago Rondon, coordenador digital de combate à desinformação no TSE, contou no Uol, que um comitê estratégico, formado por seis pessoas, já busca operacionalizar “o método 10-20-60” de forma a garantir que ele resista a qualquer intempérie: de troca de ministros a mudança de governos.
Por conta disso, desde o início do ano, o time mapeia os caminhos necessários para institucionalizar o programa. Isso quer dizer que vem mobilizando desde a equipe de Tecnologia da Informação da Corte até a própria presidência para explicar o papel de cada um e conseguir criar normativas legais de ação. O comitê também trabalha para selar parcerias. Tem feito reuniões com empresas de tecnologia, plataformas de redes sociais, acadêmicos, ONGs e organizações de checagem de fatos.
O objetivo é garantir que o método “10-20-60” esteja azeitado e tenha amplo impacto na campanha eleitoral do ano que vem. Nas conversas com Facebook, WhatsApp, Instagram, Google, YouTube, Twitter e TikTok, o TSE tem sido claro e exigente. Quer que as plataformas tenham políticas próprias, transparentes e de fácil compreensão, pensadas e voltadas especificamente para o Brasil. Copiar e colar do exterior – sem qualquer ajuste – não está valendo.
“Temos perguntado de forma muito explícita o que as plataformas farão com candidatos que, por ventura, não aceitem o resultado das urnas e estimulem enfrentamento às instituições democráticas. Até agora, no entanto, não obtivemos respostas claras”, disse Rondon.
20 milhões de eleitores em segundos
Mas o TSE segue. E também se articula para ser uma entidade independente de intermediários, no que diz respeito à sua comunicação. Desde 2020, o órgão é capaz de falar em instantes com mais de 20 milhões de eleitores só acionando o sistema de push (notificações) dos aplicativos e-Título, Pardal e Mesários. Pode reafirmar dados sobre a urna, a eleição em si e até mesmo rebater notícias falsas.
Se o conteúdo das mensagens for claro e facilmente compartilhável através desses apps, é bem possível que o TSE consiga ter um exército de difusores da verdade – estejam eles nos grupos de família ou em plena praça pública. É hora, portanto, de treinar e acertar no tom das comunicações que farão frente às narrativas desinformativas.
“E foi pensando nisso que chamei duas startups da ciência do comportamento, a Movva e a Soma, para capacitarem nosso time na arte de construir mensagens simples e eficientes. O TSE tem que falar a língua do povo”, resumiu Rondon. Professor de economia da universidade de Zurique, na Suíça, e presidente do conselho da Movva, Guilherme Lichand passou 50 minutos com os comunicadores do TSE demonstrando que, na batalha contra as notícias falsas, a forma como se “empacota” uma mensagem importa – e muito.
“Quem faz notícia falsa sabe como realocar a atenção. Joga com crenças preexistentes, com viés de confirmação e com sentimento de pertencimento de grupo. Sugeri que o TSE jogue um jogo parecido. Que crie mensagens diferentes para grupos diferentes. Que aposte na simplificação. Eles não podem ter um tom parecido com aquele das propagandas de remédio: ‘TSE informa que…’”. Qualquer associação com o que a empresa Cambridge Analytica fez durante as eleições de 2016 nos Estados Unidos não é pura coincidência.
Nas últimas eleições, o TSE viu viralizar nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem uma informação falsa sobre a possibilidade de votar em casa. O Brasil já estava em plena pandemia. Algo do tipo ganhou força entre eleitores que temiam sair à rua e ir aos seus locais de votação. O texto, no entanto, vinha acompanhado de um link que roubava dados pessoais – e eleitorais – dos cidadãos. Era um caso clássico de phishing. Mas o “método 10-20-60” foi testado e chegou bem perto de funcionar.
“Fotografamos o problema, vimos que ali havia desinformação, tentativa de phishing e ilícito eleitoral”, lembra Rondon. “Acionamos a comunicação do TSE, os checadores de fatos, a Polícia Federal e até mesmo o provedor de serviço que hospedava o domínio lá na Holanda. O site saiu do ar em duas horas”. As informações são do site Acesse Política.