O cantor e compositor, Gilberto Gil, refletiu sobre alguns assuntos, inclusive a respeito da pandemia de covid-19, em entrevista ao EL País. Ele pontua que “um evento dramático e drástico como esse ajuda a humanidade a fortalecer o seu desejo de avançar”, ressalta. Ao ser questionado sobre o mandato do presidente Jair Bolsonaro, Gil respira fundo. “Quero que o aperfeiçoamento humano aconteça em todos os indivíduos, inclusive para os que não comungam uma visão generosa da sociedade”, explica. Mas nem só de compaixão vive o homem. “São pessoas que querem nos destruir, que fazem de tudo para fazer prevalecer uma visão maldosa da bondade”, afirma. Gil comentou sobre a variedade cultural, bem como a situação cultural atual.
“Um projeto cultural brasileiro teria que considerar a grandeza de nossa variedade. Isso que está acontecendo contra nós negros (o repórter é negro) na Fundação Palmares [presidida por Sérgio Camargo], uma visão discriminatória, que quer se fazer prevalecer e dificulta qualquer arranjo. Ficamos sem modos de contribuir e ajudar. E aparentemente não querem. Eles querem insistir num modo de rejeição permanente”.
Sobre Bolsonaro e sua forma de assumir questões durante a sua presidência, ele diz: “Quando falo do presidente do Brasil, falo de uma dificuldade de assumir considerações sobre a variedade humana e a diversidade. Essa insistência de que o mundo precisa ser do jeito que ele e seus parceiros querem. Fico achando que pode, ou deveria haver, um meio para que ele viesse a compartilhar o ser humano em sua universalidade. Ter capacidade do perdão. Quando falo em rezar é nesse sentido: continuar acreditando que somos resultado de uma grande maternidade universal que nos abarca a todos, e que portanto todos deveriam se beneficiar dessa condição de sermos e nos compreendermos. Bolsonaro e qualquer outra pessoa é depositário dessa esperança”.
Ao ser indagado sobre se estamos sendo solidários como pede o momento de pandemia de covid-19, ele cita que a humanidade continua parecida com o que sempre foi. “A humanidade continua parecida com o que ela tem sido sempre. Um conjunto de seres com personalidades, individualidades, reações variadas aos estímulos da vida e do mundo. Cultivos variados de valores, níveis diferentes de consideração a esses valores, transpassados pelas religiões e filosofias. Nós, os homens, somos pecadores e estamos sempre entre a virtude e o pecado. Numa situação de pressão mais aguda, acerca do que somos e o que devemos ser, essa dimensão da realidade fica mais evidente. Em alguns aspectos há progressos nas relações sociais, mas em outros aspectos não. Continuamos conservadores, reacionários por vezes. No aspecto da solidariedade, que neste momento seria mais exigida, existem aqueles que reagem melhor e outros, pior. A esperança geral é que nós tenhamos condições de avançar em relação a um padrão genericamente aceito de nos relacionarmos. Quando vemos essas festas clandestinas, pessoas furando a fila da vacina, são os velhos modos humanos de ser, sem a empatia que a situação merece. Que possamos melhorar”.
Outros assuntos, além de pandemia, como autoritarismo, cenário do meio ambiente, refúgio espiritual, canções e ‘lives’ foram temas debatidos com o compositor, que como sempre, costuma carregar bastante conhecimento, experiência e embasamento em suas falas reflexivas. Jornal da Chapada com informações de EL País.