A enfermeira Rebeca Melo, 34 anos, vacinadora de um posto de Seabra, na Chapada Diamantina, lida constantemente com a pressão no momento de vacinação. Contudo, Rebeca também chega a ser ameaçada pelos conhecidos como “sommeliers de vacina”, que são as pessoas que querem escolher qual imunizante vão receber.
“Dá uma dor essa ignorância, e só vem em mente as vidas que não tiveram a oportunidade de se vacinar”, lamenta a enfermeira ao contar que se depara com dezenas desses sommeliers todos os dias.
No último final de semana, por exemplo, houve um mutirão de vacinação em Seabra e 60 pessoas se negaram a ser vacinadas, pois não queriam receber o imunizante disponível. “Por mais que expliquemos que todas as vacinas são seguras e autorizadas pela Anvisa, as pessoas ainda se negam a tomar”, explica Melo.
A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) pontua que não há um levantamento sobre a quantidade de pessoas que querem escolher a vacina, visto que a operacionalização do plano vacinal é dos municípios. Atualmente, três imunizantes estão disponíveis para a população.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou todos os imunizantes que estão sendo utilizados na Bahia. São eles: Coronavac, Aztrazeneca/Oxford e Pfizer/BioNtech. Todos também foram aprovados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para uso emergencial na pandemia e são capazes de reduzir em até mais de 90% os casos graves da covid-19.
Segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), no qual foram ouvidas duas mil pessoas de todos os estados do país, 43% das pessoas disseram que gostariam de escolher entre as marcas de vacina disponíveis. Mas só 9% afirmaram que deixariam de se vacinar se o imunizante que preferiam não estivesse disponível.
De acordo com o infectologista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Carlos Brites, “as atitudes dessas pessoas podem influenciar negativamente a pandemia por várias razões”, explica ao exemplificar algumas.
Brites pontua que caso o contingente desse grupo seja expressivo, a oportunidade de vacinação para um maior número de pessoas pode ser postergada e pode ocorrer um “efeito manada” ao expor maior número de pessoas ao risco e podendo obter as formas mais graves da covid-19.
Coronavac
Muitas dos sommeliers têm alegado que não toma o imunizante da Coronavac por desejar viajar para a Europa, local onde o imunizante ainda não é reconhecido. Contudo, Brites alerta: “Muito mais importante é a prevenção das formas graves e mortes”, frisa.
Além disso, com a aprovação da Coronavac pela OMS em junho, cresce a pressão para que a entrada de brasileiros no continente seja facilitada. Jornal da Chapada com informações de texto base do Correio 24h.