Levantamento feito a partir de dados extraídos do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, sobre mortes por Covid-19 no Brasil, pesquisadores revelaram que o risco de morrer pela doença causada pelo coronavírus é significativamente maior para homens negros e mulheres brancas e negras do que para homens brancos.
O estudo foi feito pela Rede de Pesquisa Solidária, que congrega várias instituições públicas e privadas. O levantamento concluiu que as desigualdades raciais e de gênero contribuem para aumentar o risco de morte mesmo em grupos de pessoas com atividades profissionais que as colocam no topo da pirâmide social.
Segundo o sociólogo Ian Prates, em entrevista à Folha, havia uma desconfiança de que a “mortalidade dos negros era maior porque trabalhavam em atividades mais expostas ao vírus, mas nem sempre isso é verdade”, disse o pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e coordenador do grupo responsável pelo estudo.
Os dados utilizados para realizar a pesquisa foram extraídos do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, sobre 67,5 mil pessoas que morreram de Covid-19 no ano passado. Para o estudo, foram considerados indivíduos com idade entre 18 e 65 anos de idade e com ocupação profissional registrada no sistema do Ministério da Saúde.
Houve mais mortes por Covid em grupos ocupacionais que são grandes empregadores, como comércio e serviços (6.420), agricultura (3.384) e transportes (3.367). Porém, o estudo mostra que alguns setores foram muito mais afetados em termos relativos.
Dessa maneira, as mortes por Covid representaram 24% de todas as mortes de profissionais de saúde registradas. Na segurança, incluindo praças das Forças Armadas, policiais militares e bombeiros, foram 25%. Entre os líderes religiosos, 44% das mortes registradas em 2020 foram causadas pela Covid.
Raça e gênero
O estudo também revelou que, para homens negros os riscos de morrer por Covid são maiores do que os enfrentados pelos brancos em todas as atividades, com exceção da agricultura.
Mesmo quando o homem negro ocupa o mesmo posto social que o homem branco, o risco de morrer é maior: a pesquisa aponta mortalidade maior entre advogados (43%), e entre engenheiros e arquitetos, com 44%.
Para os pesquisadores, uma das hipóteses para explicar o risco maior de morte para homens negros é a inserção precária no mercado de trabalho ou sem vínculo empregatício formal, o que os tornou mais vulneráveis na pandemia.
A pesquisa também mostrou que o risco de morte por Covid também é maior para mulheres negras, principalmente para aquelas que estão na base da pirâmide: para as que trabalham em serviços domésticos, são 112% maiores do que os enfrentados por brancos.
No caso das mulheres brancas, a pesquisa revela que o risco de morrer por Covid é menor que o dos homens brancos para aquelas que pertencem a grupos ocupacionais de nível e maior para atividades que exigem menos instrução. O risco é menor que o das mulheres negras.
Quando estudado o setor de serviços domésticos, o risco de morte para mulheres brancas é 73% maior do que o dos homens brancos. A situação se inverte no topo da escala social: o risco é 39% menor para advogadas e 22% menor para mulheres em posições gerenciais e cargos de direção.
Os pesquisadores explicam que a vantagem das mulheres brancas sobre os homens brancos no topo pode ser explicada por elas manterem em dia os cuidados preventivos de saúde, ao contrário dos homens. Redação da Revista Fórum com informações da Folha de São Paulo.