Mais de cinco mil mulheres rurais agricultoras, assentadas de reforma agrária e de povos e comunidades tradicionais de toda a Bahia, estão recebendo treinamento para a utilização da Caderneta Agroecológica. A ferramenta metodológica permite à agricultora fazer a gestão de tudo o que é produzido na propriedade familiar, a partir das anotações do que é vendido, trocado, doado e consumido.
A ação está sendo realizada via assistência técnica e extensão rural (Ater) do Governo do Estado, executada por meio de prestadoras de Ater contratadas via Chamada Pública da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Bahiater), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR).
As mulheres estão conhecendo esse instrumento pedagógico em atividades coletivas realizadas nas comunidades rurais atendidas, a exemplo da oficina realizada na comunidade do Engenho de São João, em Cruz das Almas, nesta semana, pela equipe do Instituto de Desenvolvimento Social e Agrário do Semiárido (Idesa), prestadora de Ater, contratada para executar a chamada pública ATER Mulher, em comunidades rurais do Recôncavo Baiano, que teve a participação da coordenadora técnica da Bahiater, Carmem Miranda.
“O ATER Mulher vem para dar visibilidade ao trabalho das mulheres, e a caderneta agroecológica é um instrumento que vai possibilitar a ela saber a renda e o tanto de produto que ela tem no quintal. A partir daí, se dá visibilidade ao trabalho da mulher. Ela começa a se ver enquanto agricultora, enquanto colaboradora, enquanto mulher que contribui na finança da casa, da família. Ela consegue ver o quanto ela produz e a diversidade da produção, um elemento fundamental. A caderneta realmente contribui para a auto-organização das mulheres, para a conquista da autonomia e eleva sua autoestima. Ela revoluciona a vida no campo, a vida das mulheres”, explica Carmem Miranda.
A agricultora Rosa dos Santos, da comunidade Engenho de São João, é uma das beneficiárias do ATER Mulher. Ela destaca a importância do serviço de Ater e a ação das cadernetas. “Estamos trabalhando com a caderneta e, antes, a gente não anotava nada, passava em branco. Hoje estou muito feliz por essa conquista para, a partir de hoje, anotar as nossas vendas, o nosso consumo, as doações e as trocas. A caderneta vai facilitar a autonomia e a nossa autoestima”.
A coordenadora do projeto ATER Mulher no Recôncavo pelo IDESA, Lidiane Braga, observa que a oficina é o momento de apresentar às agricultoras essa ferramenta. “Irá possibilitar a elas organizarem e fazerem o levantamento de toda a sua produção e toda a renda que é gerada na unidade produtiva familiar e é uma ferramenta de empoderamento feminino”.
Caderneta Agroecológica
A ferramenta começou a ser adotada em 2019, pelo Pró-Semiárido, projeto do Governo do Estado executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR/SDR). A ação já apresenta resultados econômicos e refletiu o processo de aplicação das Cadernetas Agroecológicas junto a 374 agricultoras envolvidas no Pró-Semiárido. Dentre os dados expostos, está o valor da produção gerado por elas, que ultrapassou R$ 1,2 milhão em um ano de anotações.
A Caderneta Agroecológica foi concebida em 2011, pelo Centro de Tecnologias Alternativas na região de Zona da Mata em Minas Gerais (CTA/ZM), em interlocução com o Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (GT/ANA). O Programa de Formação em Feminismo e Agroecologia (CTA), em 2013, foi o primeiro a utilizar a metodologia das Cadernetas. Logo após, também em 2013 e em 2015, o GT da ANA aplicou esse instrumento dentro de um programa de formação, cuja temática principal foi ‘Feminismo e Agroecologia’, financiado pela União Europeia e levado a todas as regiões do país. As informações são de assessoria.