Dois turistas do Rio de Janeiro, identificados como Ludwick Rego e Rômulo Souza, xingaram uma baiana, na segunda-feira (15), a chamando de “macumbeira e preguiçosa”. O caso aconteceu no Pelourinho, em Salvador, e foi gravado por ambos, que publicaram o vídeo nas redes sociais.
Os turistas filmaram a baiana de longe, enquanto faziam declarações preconceituosas. Eles chegaram a imitar a expressão da baiana, em meio às risadas e deboches. A baiana, identificada como Eliane de Jesus, estava sentada ao lado de uma mesa e trabalha há mais de dez anos no Pelourinho.
“É aquela baiana ali, oh, ela falou que vai me dar axé, ela tem cara de macumbeira?”, diz Ludwick. “Ela é o que, irmã?”, pergunta Rômulo. “Marmoteira”, responde Ludwick. “E preguiçosa”, completa Rômulo. Ainda na filmagem, Rômulo diz: “Ela vai roubar o seu axé, isso sim”, aos risos. Nesse momento, Ludwick continua: “Ela vai roubar o meu colar pra ela”.
O registro repercutiu nas redes sociais e os baianos se indignaram com as falas preconceituosas dos turistas. Após o vídeo ser viralizado, os dois gravaram um vídeo juntos, se retratando, afirmando não ter passado de uma “brincadeira”. Eles ainda fecharam os respectivos perfis das redes sociais.
“Viemos aqui pedir desculpas ao povo da Bahia, Pelourinho e axé. Em nenhum momento quisemos ofender. Estávamos em uma brincadeira. Aquela mulher estava ‘vendendo axé’, e quem é da religião sabe que axé não se vende. Benção se dá”, começaram.
“Em nenhum momento quisemos denegrir a imagem da Bahia ou dos baianos. Também queremos deixar claro que a mulher não era vendedora de acarajé. Ela queria benzer minhas guias, vendendo axé. Foi aí que começou a brincadeira. Viemos pedir desculpas a todos que se sentiram ofendidos: baianos, povo do axé, vendedoras de acarajé. E é isso. Desculpas”, disse Ludwick.
O outro turista também se desculpou e afirmou “não ter necessidade de ameaças horrorosas”. “Como Ludwick Rego falou, era uma brincadeira entre a gente e esse vídeo saiu da nossa rede social e vazou. E assim, não tem necessidade dessas ameaças horrorosas, dessas falas horrorosas, e todas as falas de Ludwick eu faço as minhas que eu peço desculpas ao povo da Bahia que eu amo, que eu tenho milhões de amigos, a gente estava indo lá pela terceira vez e vamos voltar mais vezes, ao povo da cultura, ao povo da religião, desculpa, se alguém se sentiu ofendido, desculpa”, disse.
Em um vídeo enviado ao G1, a baiana disse que no momento não percebeu ter sido filmada e só tomou conhecimento do fato após a repercussão. “Estou muito indignada, estou muito ferida com isso, porque isso é intolerância religiosa. Eu trabalho no Pelourinho há mais de dez anos, benzo, e sou suspensa como Ekede [cargo no candomblé] em uma casa [terreiro]. Então não é certo ele me chegar e fazer isso com minha imagem. Isso é uma intolerância contra a minha religião”, afirma.
A Associação Nacional das Baianas de Acarajé repudiou o vídeo feito pelos turistas e alertaram sobre a importância em não disseminar o racismo e o preconceito.
“Viemos em público acolher essa Senhora, que não é Baiana de Acarajé, mas ganha seu sustento no ponto turístico de Salvador com seu dom de cura com as folhas e boas energias, acolhendo baianos e turistas que solicitam seu serviço. Por tanto Senhor @Ludivickrego e toda sua cúpula que compactua em continuar as chibatadas em nosso povo de negro, de axé e que ganha o sustento da sua família com trabalho digno, merece nosso total respeito e empatia, não vamos tolerar essa sua afirmação tão absurda e cheia de deboche. O Novembro Negro existe para que pessoas como você se eduque e busque dissolver o racismo estrutural para que o mesmo não seja reproduzido”, pontuou a nota. Jornal da Chapada com informações de G1 Bahia.