O Colégio Cândido Portinari, em Salvador, decidiu não renovar a matrícula de estudantes da escola envolvidos no episódio do envio de mensagens preconceituosas contra uma aluna. O caso ocorreu na semana passada. A adolescente, que cursa o 8º ano EF e é filha de um funcionário da escola, foi associada a atividades criminosas por morar em uma região periférica de Salvador. De acordo com o colégio, a decisão pela não renovação da matrícula para 2022 teve como base o regimento interno da instituição.
O Cândido Portinari ainda afirmou que acompanhou o caso com medidas imediatas que envolveram o atendimento às famílias para esclarecimento sobre a gravidade da situação, afastamento dos estudantes e consulta ao Conselho de Classe, órgão deliberativo do colégio, que estabeleceu a não continuidade dos alunos na escola no próximo ano letivo. A escola não informou quantos alunos não poderão renovar a matrícula na instituição. Por meio de nota, a escola também destacou que promoveu uma palestra educativa para a turma e destacou que as medidas reforçam que a escola “repudia e não compactua com atos discriminatórios e preconceituosos”.
Relembre o caso
As mensagens de cunho preconceituoso e racista vieram à tona no último dia 18, quando uma das mães dos colegas da vítima, que não quis se identificar, tomou conhecimento da situação. Impressionada com as agressões verbais, ela divulgou as informações à imprensa. “Eu fiquei estarrecida pelo teor das mensagens e pela naturalidade com que o tema foi tratado”, afirmou. Em uma das mensagens, um dos colegas da vítima diz: “Bala para você só de fuzil”.
A vítima tentou se defender das agressões e se posicionou demonstrando orgulho do local onde mora: “Nascida e criada na favela anjo, prazer. Porém, pode ficar de boa, porque não sou envolvida com tráfico não. Nem eu e nem a minha família”. Ela ainda explicou que a favela tem muitos lados positivos, mas que os colegas não estavam preparados para conversar sobre isso.
Como resposta, a vítima recebeu a seguinte mensagem: “o lado bom da favela é conseguir tudo de graça”. Além disso, um colega mandou áudios em que ria enquanto proferia falas preconceituosas, como “a única parte boa da favela são as drogas” [sic] e “Beethoven para você deve ser som de bala perdida”. Após o ocorrido, a vítima saiu do grupo de Whatsapp, que tem cerca de 20 alunos da turma.
No Instagram do Colégio, alunos e ex-alunos falaram sobre o caso e cobraram um posicionamento. “Assim como todos os alunos e ex-alunos da instituição, estou no aguardo da devida punição que esses estudantes merecem. Espero que vocês voltem a ser o colégio humanizado que um dia tive tanto orgulho de dizer que estudei”, escreveu uma ex-aluna.
Para a mãe que fez a denúncia, o caso serve de exemplo de como o preconceito e o racismo precisam ser melhor trabalhados nas escolas particulares de Salvador. “Espero que sirva de estímulo para outros pais também denunciem, porque esse assunto precisa ser debatido com a devida relevância. Simplesmente não pude deixar passar”, afirmou. Com informações do g1 Bahia.