O uso das redes sociais e aplicativos de mensagens para a disseminação de mensagens, conteúdo e discursos políticos vem se acentuando desde as eleições de 2010, atingindo um marco nas últimas eleições presidenciais quando Jair Bolsonaro (PSL, hoje no PL) foi eleito graças à sua “força” nas redes, uma vez que seu tempo de televisão era escasso. Desde então, a questão vem despertando fortes discussões no debate público, sobretudo após os escândalos de disparos de notícias falsas favoráveis ao atual presidente que ganharam inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas além disso, o bombardeio de discursos e narrativas políticas geraram um enorme desgaste mental e emocional a muitos usuários de internet. Não era rara em 2018 a aparição de relatos nas redes sociais de usuários que brigaram com seus familiares, amigos de longa data ou colegas de trabalho por conta de discussões nas próprias redes ou nos aplicativos de mensagens. E foi justamente com o objetivo de medir esse comportamento político eleitoral do brasileiro no celular que o centro independente de pesquisa InternetLab promoveu a pesquisa Os vetores da comunicação política em aplicativos de mensagens, onde analisou os comportamentos de usuários do WhatsApp e do Telegram.
Envolvendo análises quantitativas e qualitativas, o principal ponto da pesquisa repercutido na imprensa busca o índice de usuários dos aplicativos que evitam e buscam se policiar quando o assunto é política. Esse grupo era de 40% dos entrevistados em 2020 e em 2020 chegou a 56%, confirmando a tendência pós 2018. “Há um sentimento geral de desgaste, de cansaço e de animosidade, que acabou desencadeando uma espécie de ‘ética’ para evitar brigas”, diz o relatório da pesquisa.
Em padrão parecido de comportamento, 64% declaram tomar cuidado para não compartilhar conteúdos que possam atacar valores de outras pessoas e metade evita falar de política especificamente em grupos familiares a fim de driblar brigas. Em 2020 os índices eram de 57% e 40%, respectivamente. Outra razão para a mudança está na desinformação decorrente da enxurrada de informações e links externos que os usuários recebem pelos aplicativos. Cerca de 34% dos usuários de ambos apps declararam jamais abrir links externos recebidos em mensagens.
“Quando eu vejo alguém postando algo no grupo eu já fico desconfiada. É a primeira atitude. Eu vi alguma informação, vou lá no Google, aí está lá ‘falso’, então eu já escrevo embaixo ‘gente é vírus’”, declarou uma mulher de 39 anos, moradora do Rio de Janeiro para o InternetLab.
Dos 2018 usuários de internet entrevistados pela pesquisa do InternetLab em dezembro do ano passado nas cinco regiões do país, 99,8% declararam ser usuários de WhatsApp e 43% do Telegram. E além dessa chamada nova “ética” para evitar brigas, ficou clara na pesquisa também uma diferença no uso entre as plataformas.
Enquanto no Telegram os usuários têm acesso a grupos e canais mais segmentados, a partir de interesses individuais em notícias ou temas específicos e acreditam gozar de mais liberdade no aplicativo, no WhatsApp, por outro lado, nota-se um uso mais ‘comunitário’ e generalista, com grupos de familiares e amigos, mas sobretudo uma centralidade cada vez maior no cotidiano do usuário, uma vez que tem sido cada vez mais usado como canal de comunicação com colegas de trabalho, dentro e fora do expediente, além de meio para realizar compras e pagamentos. Com informações da Revista Fórum.