Dalzira Maria Aparecida, a Yalorixá Iyagunã Dalzira, ou apenas Iyá, como é conhecida no candomblé, conquistou este mês o título de Doutora pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Filha de um trabalhador rural e uma empregada doméstica, a mineira Dalzira chegou ao Paraná ainda criança, na década de 1950. A família morou numa espécie de quilombo e enfrentou várias dificuldades. Na fase adulta, mudou-se para Curitiba e passou a integrar o núcleo em defesa dos direitos da população negra.
Mesmo que o racismo não fosse explícito, o movimento negro permitiu criar condições para um maior combate à discriminação. Nesse período, ela aproximou-se do candomblé.
Aos 47 anos, Dalzira iniciou os estudos regulares no programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Começou a cursar a faculdade de Relações Internacionais aos 63 anos. Aos 72, defendeu seu mestrado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, com a temática da dissertação voltada aos saberes do candomblé na contemporaneidade.
Aos 81 anos de idade, defendeu o doutorado na Universidade Federal do Paraná com a tese intitulada “Professoras negras: gênero, raça, religiões de matriz africana e neopentecostais na educação pública”.
Além de ser um exemplo de resistência, determinação e inspiração, Iyá destaca-se como um dos grandes nomes do movimento negro. Ela faz parte da 7ª geração de africanos que chegou ao Brasil e representa um dos principais símbolos na luta contra o racismo e na defesa da tradição e da religiosidade africana no estado.
Em entrevista à Carta Capital, ela disse que com essa conquista pretende contribuir para a reconstrução de um mundo melhor, com mais amor e menos ódio, e pediu somente compreensão. “Sempre seremos negros, mas que não sejamos odiados por sermos negros”.