Suspeita de ser beneficiária de esquema de desvio de dinheiro e rachadinha quando ocupava o Palácio da Alvorada, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro tinha algumas exigências que poderiam causar problemas a funcionários da Ajudância de Ordens da presidência da República.
Novas conversas encontradas pela Polícia Federal no celular do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, mostram algumas características pessoais de Michelle, que segundo as investigações exigia saques de dinheiro vivo feitos por funcionários do Palácio, que supostamente pagavam suas contas.
Mauro Cid está preso desde o dia 3 de maio por, segundo a PF, liderar um esquema de fraude de cartões de vacinação que teria beneficiado, inclusive, o próprio Bolsonaro. A partir da apreensão do celular do militar, investigadores chegaram a inúmeros outros fatos que ensejaram novas investigações ou reforçaram outras já existentes – da conspiração por um b contra o resultado das eleições de 2022 até o escândalo das joias dadas ao governo pela Arábia Saudita e que o atual presidente tentou se apropriar ilegalmente.
Em uma dessas conversas periciadas pela PF que estava registrada no aparelho celular de Cid, o ex-ajudante de ordens alerta outros funcionários da presidência sobre uma regra que deveriam seguir quando transportassem Michelle Bolsonaro de carro. Segundo o auxiliar de Bolsonaro, a ex-primeira-dama é “sensível a barulhos”.
“Vou pedir um favor ao senhor. Quando tiver oportunidade, para conversar com o motorista de AJO [ajudância de ordens]. Ele entrou na privativa e estava com o som do carro um pouco alto e bateu as portas do carro”, diz mensagem, obtida pela coluna de Guilherme Amado no site Metrópoles, encaminhada por Cid a um grupo de servidores do Palácio no WhatsApp.
“A dona Michelle é bem sensível a barulhos altos e pode acabar reclamando”, prossegue o alerta enviado pelo ex-braço direito de Jair Bolsonaro.
“A dama pediu saques”
Relatório parcial da Polícia Federal mostra como o ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, indicava os saques realizados para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
As investigações da PF mostram que Cid utilizou dinheiro público para pagar despesas da esposa de Bolsonaro e, agora, indicam o uso de códigos para operações financeiras para a ex-primeira-dama.
“O conjunto probatório colhido durante o estudo do material apreendido (inclusive o contido em nuvem) permite identificar uma possível articulação para que dinheiro público oriundo de suprimento de fundos do governo federal fosse desviado para atendimento de interesse de terceiros, estranhos à administração pública, a pedido da primeira-dama Michelle Bolsonaro, por meio de sua assessoria, sob coordenação de Mauro Cid”, diz o documento da Polícia Federal.
Nas conversas, Mauro Cid indicava aos subordinados que Michelle precisaria de dinheiro a partir dos códigos “A dama pediu saques” e “PD”.
Entre os pagamentos, estão movimentações para serviços de costureiras, podólogas e veterinários. As solicitações de saque em dinheiro vivo eram articuladas pelas assessoras de Michelle e Mauro Cid. Foram pelo menos 23 operações do tipo em 2021.
Além disso, existem depósitos para Rosimary Carneiro, que cedia seu nome para um cartão de crédito usado pela primeira-dama e por familiares de Michelle.
O próprio Mauro Cid manifestou, em conversas, uma preocupação com o esquema, afirmando ser similar com o caso de “rachadinha” envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Investigações reveladas anteriormente mostraram que o dinheiro vinha de uma empresa que tinha contrato com o governo federal, a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).
As investigações começaram a partir da Operação Venire, em que Mauro Cid é suspeito de falsificar diversos cartões de vacina no sistema do Ministério da Saúde, incluindo o do próprio presidente Jair Bolsonaro e de sua filha, Laura Bolsonaro. As informações são da Revista Fórum.