Usando os veículos da mídia liberal para atacar o ministro Paulo Pimenta, a que se referiu como “preposto de Lula”, Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, cometeu um deslize e confirmou que ignorou estudos sobre mudanças climáticas nos últimos anos, que alertavam para uma tragédia no Estado.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Leite foi indagado se “se preparou mal para lidar com as enchentes”, enquanto estudos apontavam possibilidade de chuvas torrenciais no Estado. Na resposta, o tucano confirmou que recebeu alertas, mas os ignorou porque tinha “outras pautas e agendas”.
“Bom, você tem esses estudos, eles de alguma forma alertam, mas o governo também vive outras pautas e agendas”, disse, usando como justificativa o endividamento do Estado.
“A agenda que se impunha ao estado era aquela especialmente aquela vinculada ao restabelecimento da capacidade fiscal do estado para poder trabalhar nas pautas básicas de prestação de serviços à sociedade gaúcha”, emendou.
Sem citar em nenhum momento o termo “mudanças climáticas”, tanto na entrevista à Folha, como na concedia ao O Globo, o governador gaúcho negou que seja um negacionismo climático afirmando que “tem essa consciência”.
Leite ainda minimizou a “boiada” que passou, ao ao realizar 480 mudanças na legislação ambiental do Estado, permitindo uso de áreas de preservação e afrouxando a fiscalização sobre atividades com alto poder de degradação.
“Acabaram com a legislação ambiental? Não, aprimoramos, modernizamos, ajustamos e até endurecemos em muitos pontos”, disse, na resposta em tom neoliberal sobre o tema.
Muro e sistema antienchente
Sobre a derrubada do Muro da Mauá, tema pelo qual usou como marketing para sua ascensão política, o governador gaúcho também se esquivou.
“Nunca dissemos que os muros eram desnecessários e que deveriam sair dali. Defendi a substituição por um novo sistema, com um novo modelo. A lógica é de que os armazéns devem se integrar à cidade para serem espaços de gastronomia e lazer”, diz ele.
Em entrevista à Fórum na semana passada, Tarso Genro, ex-governador e ex-prefeito de Porto Alegre por dois mandatos, disse que o sucateamento do sistema antienchente, criado nos anos 1970 para conter as cheias do rio Guaíba em Porto Alegre, se deu principalmente pela propaganda política do tucano.
“O governador se tornou propagandista da queda do muro. Tem vídeos circulando lembrando essa atitude dele. A palavra do governador tem influência na conduta das pessoas, da máquina pública e da própria especulação imobiliária, que é muita intensa e sempre olhou o muro de forma antipática”, disse Genro.
Leite, no entanto, faz vista grossa à falta de manutenção do sistema, admitindo falhas, mas não pela inação dele e do prefeito da capital gaúcha, o bolsonarista Sebastião Melo (MDB).
“Que o sistema falhou, está muito claro. Agora a questão é: foi falha de manutenção ou foi falha de concepção? Porque, de fato, é a primeira vez que ele é posto à prova nos seus pouco mais de 60 anos em uma crise de magnitude maior do que a enchente de 1941”. As informações são do site Revista Fórum.