A comunidade escolar de três povoados da zona rural de Palmeiras, na Chapada Diamantina, teve a oportunidade de assistir ao documentário “Garimpando”, que retrata a história da cidade através da contribuição do garimpo. O filme foi exibido nas escolas rurais de Serra Negra, Lagoa dos Patos e na comunidade quilombola de Tejuco, na última quinta (10) e sexta-feira (11).
Nas três localidades, a equipe do documentário “Garimpando” realizou a exibição acompanhada de uma breve contextualização sobre os impactos históricos, econômicos, ambientais e sociais do garimpo. Crianças e adolescentes, junto de seus professores, tiveram a oportunidade de vivenciar uma verdadeira aula sobre esse importante capítulo da história de Palmeiras e da Chapada Diamantina.
Sob a condução da diretora do filme, Géssica Correia, e da historiadora Nelcy Freire, os diálogos após a exibição foram adaptados para diferentes faixas etárias, incluindo turmas multisseriadas. Nelcy, especialmente para os mais novos, iniciou a atividade com canções e abordagens lúdicas, proporcionando aprendizado sobre a história local de forma acessível e divertida.
Naiella de Oliveira Dourado Silva, professora em Serra Negra, compartilhou que as iniciativas audiovisuais na escola são raras, mas destacou que esta é a segunda vez que Géssica exibe um documentário para seus alunos, a primeira sendo o curta “Anos Luz”. Ela ressaltou a importância dessas ações para a formação dos estudantes, que agora têm uma nova perspectiva sobre o lugar onde vivem.
Na visão da professora, o documentário será uma ferramenta valiosa para aprofundar o estudo do tema com os alunos, enriquecendo as discussões em sala de aula. “Como poderíamos mostrar para eles como era o garimpo antigamente?”, questionou, acrescentando que “conhecer o passado ajuda a entender o presente”.
Naiella compartilhou que o documentário despertou lembranças de sua própria história, já que também é natural da região. “O meu pai era garimpeiro, eu revivi muita coisa que eu escutava ele falar.” Tomada de emoção, a professora lembra que antes de sua morte, o pai deixou para ela um diamante e deu à mãe a missão de entregar apenas quando ela se casasse. “No dia que casei minha mãe me deu, contando que era um presente do meu pai. Eu tomei um susto e quando abri era um diamante na garra que estava guardado há muito tempo”, relembrou.
Na Escola de Lagoa dos Patos, as crianças do infantil até o quinto ano do ensino fundamental foram recebidas em clima de festa, sob a coordenação da professora Edilene Maria de Oliveira. Junto com as demais professoras, merendeiras e auxiliares, Edilene organizou uma recepção especial para a equipe do documentário, com bolo, salgados, suco e muita pipoca durante a exibição. Responsável pelos alunos do terceiro ao quinto anos, Edilene também tem uma conexão pessoal com o tema, já que seus pais foram garimpeiros por um período.
Ela lembra que o dinheiro do garimpo, como registrado por um dos entrevistados no documentário, não durava muito tempo. “Ganhava muito, mas o dinheiro parecia que sumia igual”, recordou.
Na escola, já estava trabalhando com os estudantes o ‘Mês da Chapada’, então, receber a exibição do filme nesse momento fez muito sentido. “Enriquece muito, é história.”
Tejuco, uma comunidade de origem quilombola, foi o local da última parada dessa primeira fase das exibições itinerantes do documentário “Garimpando”. Na Escola Municipal de Primeiro Grau de Tejuco, alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, acompanhados por seus professores e membros da comunidade, assistiram à apresentação do filme.
O diretor da escola, Daniel Puridade Miranda, explicou que estão atualmente engajados em um processo de resgate histórico da comunidade e buscando aprofundar o conhecimento sobre o município onde vivem. “Acho importantíssimo o documentário porque traz parte dessa história de Palmeiras que eles não conhecem. Não conhecem da própria comunidade, e infelizmente também não conhecem o município de Palmeiras, essa parte do garimpo, eles não acessaram ainda. Estamos justamente nesse processo do resgate, de conhecer essa história de onde eles vivem”, revelou.
Durante o processo de reconstrução do Projeto Político Pedagógico da escola, que está passando por uma mudança de nome, o diretor considera essencial incorporar referências históricas. Nesse sentido, a exibição do documentário foi uma valiosa contribuição para a unidade escolar. “Importante para a construção da identidade da própria escola. Dá para trabalhar [o filme] com a professora de história, com a professora de geografia, dá para extrair muita coisa do filme”, acrescentou.
A diretora do filme pretende passar por outros povoados e escolas, no entanto, ainda não há novos roteiros definidos.
O documentário
O documentário “Garimpando” oferece narrativas e informações que permitem aos cidadãos compreender a relevância da região de Palmeiras, onde o garimpo desempenhou um papel crucial na construção de sua identidade material e imaterial. Com detalhes inexplorados sobre a vida dos garimpeiros e o impacto dessa atividade no desenvolvimento histórico da cidade e da região, o filme enriquece o conhecimento local.
Em reconhecimento à sua importância, o documentário recebeu uma moção de aplauso do vereador Kleber Fernandes, que não apenas parabenizou a equipe pela realização do projeto, mas também sugeriu à Câmara a criação de uma sala de audiovisual no Museu Municipal. Essa proposta visa permitir a exibição do documentário em conjunto com outros materiais culturais.
O impacto do filme foi tão significativo que atraiu a atenção do secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro, que visitou Palmeiras um dia após o lançamento na praça.
A diretora
Géssica, de 27 anos, trabalha na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Palmeiras e nutre um profundo desejo de se especializar na área audiovisual. Nascida e criada na Chapada Diamantina, ela é apaixonada pela história da região, o que a motiva a desenvolver projetos que preservem suas memórias. Com “Garimpando”, seu segundo documentário, ela avança em sua missão de resgatar e contar as histórias locais, seguindo o sucesso de seu primeiro filme, intitulado “Anos Luz”.
Além de suas produções cinematográficas, Géssica também é fotógrafa e já colaborou em projetos com figuras notáveis, como o nutricionista e empresário Daniel Cady e o humorista Whindersson Nunes, ambos na Chapada Diamantina. Sua trajetória reflete um compromisso contínuo em unir arte e cultura, evidenciando a riqueza do patrimônio local por meio de suas produções.
Lei de incentivo à Cultura
Este projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. A Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar n.º 195, de 8 de julho de 2022. As informações são de assessoria.