Com mais de 47 anos de experiência no combate e monitoramento de incêndios florestais, o brigadista e pesquisador Homero Vieira dos Santos, conhecido como Velho Urso, lançou um manifesto em que denuncia o que chama de ‘Indústria do Fogo’. O documento aponta que muitos incêndios não são acidentes da natureza, mas fazem parte de um ciclo de interesses econômicos e políticos que se beneficia da destruição ambiental.
Homero alerta que tratar os incêndios florestais apenas como consequência das mudanças climáticas ou do aquecimento global serve para mascarar responsabilidades locais, deixando de apontar e punir aqueles que provocam as queimadas ou se beneficiam economicamente da destruição da floresta. “Nem todo incêndio é acidente. Nem toda tragédia é natural. Nem toda fumaça é inocente”, alerta o brigadista em seu manifesto.
Para ele, a propagação das chamas não deve ser encarada apenas como uma tragédia inevitável da natureza. Muitos dos incêndios que acontecem na Chapada Diamantina têm origem intencional e, em diversos casos, não são combatidos adequadamente, permitindo que se espalhem com maior intensidade.
Homero alerta que, para determinados interesses, o fogo pode ser até bem-vindo, funcionando como parte de um ciclo que começa na omissão das autoridades e termina gerando lucro. Esse padrão evidencia como alguns incêndios florestais deixam de ser apenas um problema ambiental para se tornar um instrumento de exploração econômica.
O brigadista afirma que o fogo se tornou instrumento de especulação e de dominação territorial, em um processo que envolve a flexibilização de leis ambientais, a chegada de empreendimentos e loteamentos, além de contratos que transformam áreas queimadas em oportunidade de negócio. “A floresta não é combustível para lucro. A crise climática não pode ser usada como desculpa para apagar responsabilidades locais”, reforça.
Apesar do cenário preocupante, Homero lembra que existem caminhos possíveis para prevenir e reduzir os incêndios. Técnicas de manejo adequado, monitoramento antecipado, integração de comunidades tradicionais e valorização da ecologia do fogo são estratégias já conhecidas, mas pouco aplicadas.
Jornal da Chapada

