Vale tudo para conseguir o voto? Até adversários de chapas de posicionamentos diferentes se unirem informalmente? As conhecidas “dobradinhas”, termo utilizado em política quando há a união de dois deputados – um federal e outro estadual – que realizam campanha juntos em determinada localidade, às vezes não obedecem aos critérios de oposição e situação. A questão é comum no interior da Bahia, onde o assunto trouxe polêmicas nos últimos dias e ultrapassou os limites da chapa proporcional. Como noticiado na segunda (25) na Tribuna da Bahia, o candidato Rogério Andrade (PSD), na cidade de Governador Mangabeira, deixou de lado até a candidatura do seu correligionário Otto Alencar (PSD) ao Senado e apareceu ao lado de Geddel (PMDB) e Paulo Souto (DEM).
O deputado federal Arthur Maia (SDD), que busca reeleição este ano, apoia a chapa majoritária encabeçada por Paulo Souto, mas, em Vitória da Conquista, recebeu apoio do PCdoB, que está na base eleitoral da chapa comandada pelo petista Rui Costa. O atual presidente do SDD na cidade, vereador Hermínio Oliveira Neto, que também é vice-presidente da Câmara Municipal, apresentou a militância ao parlamentar do SDD e declarou apoio à dobradinha Arthur Maia (federal) e Fabrício Falcão (estadual). A equipe do jornal tentou contato com Maia e Andrade, mas não obteve resposta.
Outro foi o presidente da Assembleia Legislativa e candidato a reeleição, Marcelo Nilo (PDT). Ele apareceu ao lado de Paulo Souto (DEM), Geddel (PMDB) e Aécio Neves (PSDB) em convite de inauguração de comitê na cidade de Ipecaetá. O fato destoa da coligação em que o pedetista está inserido que faz coalizão a Rui Costa (PT), Otto Alencar (PSD) e Dilma Rouseff (PT). Nilo apontou a conjuntura da liderança no local: o prefeito Marcell Gomes (PMDB). “Dos 51 prefeitos que aderiram a minha candidatura, somente ele é da oposição”, apontou. Segundo o pedetista, a relação com os petistas não deve ser abalada com a ação. Se por um lado a atitude pode causar prejuízos políticos por conta da postura ideológica, por outro, na Justiça, o assunto não é restritivo.
De acordo com a advogada especialista em direito eleitoral, Deborah Guirra, cabe ao partido punir ou não os candidatos. “O assunto pode ser uma eventual infidelidade, mas o Judiciário averiguaria caso a caso que, muitas das vezes, foge do controle do postulante. Muitas ações podem ser espontâneas dos próprios eleitores”, explicou.
O deputado Marcelino Galo (PT) é contra a prática, para tanto, o petista, que se viabiliza para reeleição a mais uma cadeira à Assembleia Legislativa, começou uma campanha contra a vinculação do seu nome a candidatos oposicionistas. Em flayers distribuídos na internet, o postulante pede: “Se você realmente me apoia, não pinte meu nome com candidatos que não sejam Rui, Otto e Dilma. Se você fez isso, apague”, solicita. Muitos partidos não aceitam a atitude quando ela parte do próprio postulante. Um deles é o PT, chefiado, no estado, por Everaldo Anunciação.
O presidente da sigla, em conversa com a Tribuna da Bahia, afirmou que a gestão petista não admite a vinculação e acordos que fogem das regras da coligação. “Toda agremiação tem recomendações, se as pessoas fogem, podemos questionar. Nós não admitimos patrocínio eleitoral em chapas de oposição, mas se isso parte de uma liderança, não podemos questionar”, apontou. “Vamos supor que um prefeito tenha afinidade com dois candidatos diferentes… Eu não posso impedir ele de fazer o patrocínio do apoio, não podemos vetar o direito de expressão. Mas se isso vem do próprio candidato, eu recomendo à população que não vote”, completou. Extraído da Tribuna da Bahia.